A oração é o retrato da alma. É
nossa identidade espiritual, a impressão digital do cristão. A maneira como
oramos e o conteúdo de nossas orações revelam o que pensamos sobre Deus e o que
pensamos sobre nós. A melhor forma de conhecer a teologia e o caráter de uma
pessoa ou de uma igreja é observar sua oração.
É por isso que gosto de meditar
nas orações na Bíblia. Gosto também de observar a forma como oramos. As orações
do apóstolo Paulo em sua Carta aos Efésios nos ajudam a perceber sua teologia e
seu caráter. Meditando nelas, percebemos que existem duas formas de orar: a
primeira é quando apresentamos nosso mundo a Deus. A segunda é quando
participamos do mundo dele.
Na primeira forma de oração, que
é mais comum entre nós, oramos por nossa família, trabalho, saúde, projetos e
outras necessidades pessoais. Deus quase sempre é invocado para atender a essas
necessidades e emergências. Elas constituem o centro das orações. São orações
que dizem respeito mais a nós do que a Deus.
Outra forma de orar é quando
participamos do mundo de Deus. Oramos a partir daquilo que ele tem feito, das
grandes realizações de sua graça em nosso favor. É o mundo de Deus, não o meu,
que constitui o centro da oração.
É assim que Paulo ora. Ele começa
agradecendo as bênçãos com que Deus nos tem abençoado nas regiões celestiais em
Cristo. Ele é grato pelo fato de que Deus nos escolheu em Cristo, antes da
fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis. Louva a Deus por nos
ter adotado como filhos e filhas, por sua eterna bondade. Agradece pela
redenção e libertação do pecado e reconhece a riqueza da graça de Jesus Cristo.
É grato a Deus pela revelação de sua vontade e pela dádiva do seu Espírito, que
sustenta nossa salvação.
Ele segue orando e suplicando
para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo conceda à igreja espírito de
sabedoria e revelação para o pleno conhecimento de Jesus Cristo. Para que Deus
abra os olhos do seu povo para que compreendam a esperança da vida em Cristo, o
poder da ressurreição pelo qual agora vivemos e a exaltação e glória de Cristo.
Mais do que ser liberto da prisão, seu grande desejo é ver seus irmãos e irmãs
tendo um conhecimento verdadeiro de Cristo e crescer em direção à sua real
humanidade.
Ele coloca-se de joelhos diante
do Pai e suplica para que Cristo habite nos corações do povo de Deus,
transformando seu interior, para que possam, juntos, compreender a riqueza do
amor de Cristo que transcende toda a compreensão humana e ser tomados de toda a
plenitude de Deus. São esses os motivos de gratidão e as súplicas de Paulo.
É uma oração na qual podemos
perceber a teologia e também o caráter do apóstolo. Antes de apresentar seu
mundo a Deus, ele busca participar do mundo de Deus. Sua preocupação não se
limita às necessidades pessoais. Não são suas prisões ou reputação que têm
prioridade em suas súplicas. Sua atenção não está em sua saúde ou bem-estar. O
que ele revela em sua oração é a paixão pela obra de Cristo, o desejo de ver o
povo de Deus crescendo em direção a Cristo.
Podemos e devemos apresentar
nosso mundo a Deus por meio da oração. Interceder pela família, trabalho, saúde
e outras necessidades pessoais e comunitárias é parte de nossa resposta ao
chamado de Cristo. No entanto, se permanecemos apenas conosco, atrofiamos a
alma. Concebemos a oração a partir do nosso mundo e não do mundo de Deus. Das
nossas necessidades e não das gloriosas riquezas de Cristo. Nossa compreensão
de Deus torna-se confusa e a experiência de oração, frustrante.
A oração sempre começa com Deus e
não conosco. O que Deus fez por nós em Cristo precede o que ele faz por nós em
nossas necessidades diárias. Participar do mundo de Deus nos ajuda a entender a
forma como Deus participa do nosso mundo. Se permanecemos com aquilo que Deus
fez e segue fazendo em Cristo, crescemos na medida da estatura de Cristo.
Ricardo Barbosa de Sousa é pastor
da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos,
em Brasília. É autor de “Janelas para a Vida” e “O Caminho do Coração”.
Extraído da Revista Ultimato - Edição 326.
Extraído da Revista Ultimato - Edição 326.
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