PALAVRAS DE VIDA:

"Sejam bons administradores dos diferentes dons que receberam de Deus. Que cada um use o seu próprio dom para o bem dos outros!." 1 Pedro 4:10

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Deus está sempre em ação.


Deus é o sujeito dos verbos abrir e fechar, construir e destruir, ajuntar e espalhar, enaltecer e humilhar, aproximar-se e distanciar-se, perdoar e acusar, salvar e condenar, enxugar e produzir lágrimas, derramar graça e derramar ira, cuidar e abandonar, adoecer e curar, trazer e recolher o fôlego de vida, dar e reter, e muitos outros.
 Por ser o doador da vida, o criador do céu e da terra, o Senhor dos senhores, o Rei dos reis, o Deus dos deuses, o Soberano Senhor -- Deus faz o que quer, com quem quer, como quer, onde quer e quando quer. Ele é absolutamente livre, absolutamente sábio, absolutamente justo e absolutamente poderoso. Um deus sem essas prerrogativas não seria Deus.
 Nem sempre o que Deus faz parece certo, parece justo, parece bom. Porém os cristãos mais próximos dele e mais cheios dele aprendem a respeitá-lo, a não discutir com ele, a não brigar com ele, a não abandoná-lo por causa de suas ações aparentemente estranhas e incompreensíveis. Eles aprendem a dar tempo ao tempo e esperar o desenrolar de tudo. Assim como o leitor de um romance não se assusta com a complicação e confusão do enredo, na certeza de que no final o autor vai deixar tudo esclarecido, os cristãos confessam que não têm sabedoria suficiente para acompanhar Deus, porque ele é muito maior, e confiam nele. Um bom número de cristãos acredita piamente, como Paulo, que “cada detalhe em nossa vida de amor a Deus é transformado em algo muito bom” (Rm 8.23). Não é à toa que o primeiro livro da Bíblia começa com a criação dos céus e da terra (Gn 1.1) e o último termina com a criação do novo céu e nova terra (Ap 21.1).
 O Salmo 107 e o capítulo 2 de Lamentações de Jeremias, por exemplo, chamam atenção para esse choque de verbos. No primeiro, Deus liberta o seu povo, tirando-o das mãos de seus inimigos, e faz com que ele volte do exílio para a sua terra; dá água aos que têm sede e coisas boas para comer aos que estão com fome; livra-o de suas muitas aflições, tira-o da escuridão e quebra em pedaços as correntes que o prendiam; derruba portões de bronze e despedaça barras de ferro; cura-o e salva-o da morte; estando ele em perigo no alto mar, Deus acalma a tempestade e deixa quietas as ondas bravias; e realiza para ele coisas maravilhosas. No entanto, no outro texto, o mesmo Deus trata o mesmo povo de modo muito diferente. Deus joga por terra, humilhados, o reino de Judá e suas autoridades; acaba de vez com o poder de Israel e, quando os inimigos dele se aproximam, ele não o ajuda e ainda se joga contra o povo; aponta as suas flechas contra os judeus e mata as pessoas mais estimadas entre eles; derruba as fortalezas e arrasa os palácios de Jerusalém; abandona o templo e deixa que os inimigos derrubem suas paredes.
 No contexto de ambas as passagens (o Salmo 107 e o capítulo 2 de Lamentações de Jeremias) está a explicação para o fenômeno em pauta. O Deus que abençoa e o Deus que retira a sua bênção é o mesmo. Basta recordar a afirmação de Tiago: “[No Pai das luzes] não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tg 1.17). Para esclarecer e enfatizar mais, vale a pena consultar outras versões. Na Bíblia do Peregrino: Deus “não está sujeito a fases nem períodos obscuros”; na Edição Pastoral Catequética: Em Deus “não há mudança nem mesmo aparência de instabilidade”; na Tradução Ecumênica da Bíblia: Em Deus “não existe nem hesitação nem sombra de dúvida ou movimento”; em A Mensagem: “Em Deus existe plena firmeza, nele não existe instabilidade”; e na Nova Versão Internacional: Deus “não muda como sombras inconstantes”.
 Deus está sempre em ação, tanto para descomplicar como para complicar. Precisamos ficar atentos ao amor bondoso e à terrível severidade que coexistem em Deus: misericórdia zero em algumas situações e bondade total em outras (Rm 11.22)!

Extraído de: Revista Ultimato – Edição 338

domingo, 27 de janeiro de 2013

A ruína que se acha “casa” e pensa ser luz.


Uma música muito tocada nos ajuntamentos comunitários é a canção “Casa”, da banda Palavrantiga. Ela diz que somos “casa, lugar de Deus”, também diz que “estamos em obra” e que só um dia alcançaremos a perfeição.
É bem verdade que jamais seremos perfeitos nesse mundo. Somos obra inacabada e que, apesar de refeita por Deus, ainda precisa de reparos e cuidados diariamente. Entretanto, na condição de “nascidos de novo”, creio que há mudanças indispensáveis que, de fato, determinam quem somos: se somos luz, ou trevas, casa ou uma velha ruína. Afinal, que sentido faz sermos uma casa sem iluminação?
Acontece que muitos, mas muitos mesmo, que se dizem filhos de Deus, nascidos de novo, raça eleita, portadores do Espírito Santo, luz do mundo, ainda não compreenderam coisas tão simples que dispensam qualquer estudo teológico recheado de exegese, hermenêutica ou algo do tipo. Para ser luz, não precisa de tanta conjectura. Veja só:
Cristo disse: Os olhos são a candeia do corpo. Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz. Mas se os seus olhos forem maus, todo o seu corpo será cheio de trevas” [Mt 6.22-2].
Pessoal, não duvido que seja raro encontrar gente cheia de trevas achando ser luz.
Lamento por perceber uma multidão de súditos que se dizem entendedores da Graça de Deus, que se esmeram no estudo bíblico para exibirem seus dotes teológicos, que fazem fronte ao evangelho equivocado, mas que, infelizmente, no teste do cotidiano, se mostram pessoas de difícil convivência, que destilam seu veneno de prepotência, intolerância, que fazem de seus álibis a detenção de uma verdade discursiva, apenas. Gente que não sabe diferenciar ideias de pessoas, divergências de convivência. Gente que só no olhar não transmite um pingo de paz, amor e graça.
Este tal “cristão” é aquele tipo de “casa” que tem como manutenção de si as desgraças alheias. É gente que geralmente vibra diante das fraquezas do próximo e justifica seus deslizes nas falhas de outros que chama de irmãos. Gente que se faz de forte, mas na hora do “vamo ver” abandona a cruz. Este é o tipo de “casa” que sabe que vive em um local de esgoto, mas se imagina em um jardim perfumado.
Fico triste em notar que esse tipo de gente traz em si a “marca da lei”, que é um exímio observador, mas, infelizmente, torna-se um amplificador de erros. É o portador do semblante reprovador, condenador.
Agora, o mais lamentável é que, neste texto, não me refiro àqueles falsos mestres, que tanto alertamos e combatemos. Refiro-me às pessoas que por fora são até apresentáveis “cristãos”, mas que no conjunto da obra, ainda são uma ‘ruína velha’ que necessita de uma grande reforma. O que falta então? Simples. Novas janelas para casa e uma boa iluminação.
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Antognoni Misael é professor de música (UFPB) , historiador (UEPB), membro da Igreja Presbiteriana do Brasil (Guarabira-PB) e escreve no blog “arte de chocar“. Texto originalmente publicado no blog do autor. Direitos reservados. Reprodução autorizada.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Filhos, obedeçam aos seus pais.


Recentemente, ao fazer minha leitura devocional, me deparei com o texto de Mateus 12.46-50, o qual me deixou pensativa. As palavras de Jesus “quem é a minha mãe, e quem são meus irmãos?” sempre me soaram fortes; afinal, a família e, principalmente, o papel da mãe são muito importantes na cultura latino-americana.
 Como entender a relação de Jesus com sua mãe neste texto e em João 2.4, no qual ele lhe diz: “Que temos nós em comum, mulher?”.
 Ao lermos outros textos que falam sobre o relacionamento familiar de Jesus, percebemos um equilíbrio entre a submissão do filho aos pais e o desenvolvimento da identidade dele.
 Já na adolescência de Jesus (Lc 2.41-52) verificamos este processo: após ficar em Jerusalém sem que os pais o soubessem, Jesus tem a liberdade de dar explicações. Seus pais o ouvem e, mesmo sem entender, respeitam suas colocações. Depois Jesus volta com eles para casa e lhes é submisso. Nós também temos que ter esta prática em nossa vida familiar: os filhos precisam fazer exercícios de independência, mas também saber respeitar e ser submissos. Os textos de João e Mateus, no entanto, nos contam de um Jesus adulto, que tem um ministério a cumprir.
 Alguns pais permanecem demasiadamente ligados aos filhos adultos e esperam que eles continuem submissos, mesmo quando já são casados ou têm vida própria e independência financeira. Cria-se um relacionamento misturado e dependente, prejudicial ao processo de amadurecimento familiar. Pais acreditam que é necessário continuar vivendo de forma que os filhos lhes prestem contas de todos os aspectos de sua vida.
 Jesus não agiu desta forma. Ele sabia qual era o seu ministério e, apesar de usar palavras duras para com a sua mãe, em vez de ficar ofendida, ela ordena que os empregados façam tudo o que ele mandar (Jo 2.5).
 Nós pais temos muito a aprender com essa atitude de Maria -- observar como se processa a vida de nossos filhos; apoiá-los, sem achar que por termos mais experiência sempre sabemos o que é melhor para eles; aceitar que nem sempre poderemos fazer parte da vida deles, pois precisam de independência para cumprir os próprios mandatos.
 É importante que os filhos desenvolvam suas habilidades pessoais, mesmo que estas não sigam os costumes familiares. Jesus era filho de um carpinteiro e, na cultura da época, o comum seria que ele seguisse a profissão do pai. Na minha prática terapêutica, vejo algumas famílias tão fusionadas que não existe espaço para que os jovens adultos busquem sua identidade profissional. Jesus teve esta liberdade de escolha e a família soube respeitar seu ministério.
 Mesmo quando Jesus usou palavras duras para afirmar sua identidade adulta, ele não faltou com respeito e cuidado com os pais. Na hora do seu maior sofrimento, na cruz, ele não se esqueceu da mãe, então desamparada, mas voltou-se para ela e lhe apresentou um “novo filho”, que iria cuidar de suas necessidades. Jesus sabia manter o equilíbrio entre autonomia, pertencimento e cuidado.
 Nos textos de Atos, lemos que Maria estava integrada no meio dos seguidores de Jesus. Ela certamente foi uma mulher sábia, que soube dar o espaço necessário ao desenvolvimento do filho. Não ficou magoada nas vezes em que ele não aceitou falar com ela e, por sua atitude, confirmou o ministério de Jesus.
 Sejamos também pais sábios, que dão espaço aos filhos para que eles possam se desenvolver como adultos autônomos, respeitando-os como indivíduos responsáveis, mesmo quando não os entendemos.

Carlos “Catito” e Dagmar são casados, ambos psicólogos e terapeutas de casais e de família. São autores de Pais Santos, Filhos nem Tanto.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Missão Global.


“Perseverai na oração, vigiando com ações de graças. Suplicai, ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos abra porta à palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual também estou algemado; para que eu o manifeste, como devo fazer”. Colossenses 4.2-4
Eu sempre tive uma grande admiração pelos servos do Senhor que abrem mão de tudo em suas vidas para servi-lo. Homens e mulheres que se dispõem a pregar o Evangelho nos lugares mais distantes, sob as condições mais inóspitas. Alguns sofrendo até o risco de morte, pregando em lugares que não aceitam outra forma de fé, a não ser a deles e que, por isso, agem de forma violenta para afastar os que pregam algo diferente da sua cultura religiosa.
O apóstolo Paulo fez da sua vida uma prática missionária, levando o Evangelho do Senhor para muitas cidades e pessoas que ainda não haviam conhecido a fé em Cristo Jesus. Abriu mão de suas convicções, viveu pela pregação do Cristo e este crucificado e ressurreto. Esta vida, apesar de gloriosa para o Reino de Deus, não foi bem entendida pelo mundo, o que fez terminar seus dias na prisão, onde encontrou a morte. Mas, mesmo lá, movido pela força do Espírito Santo, ele não deixou de pregar um só dia os mistérios de Cristo.
Embora o meu ministério tenha um caráter urbano, sei que podemos nos dedicar à oração e/ou ao sustento de missionários que, movidos pelo Senhor, alargam as suas fronteiras e saem a proclamar o Evangelho em outras terras. Entretanto, mesmo crendo que a nossa missão nos impulsiona a alcançar outras terras, só entendo um chamado que me leva para outros continentes, se antes me levar ao coração daqueles que estão do meu lado. Não consigo compreender uma indicação para missão sem a manifestação da comunidade local que apoia e supre as necessidades missionárias do servo enviado.
Creio no chamado de Deus e na sua promessa de suprir as nossas necessidades e de estar conosco por onde quer que andemos. Mas continuo com a firme convicção de que as palavras de Jesus revelam o seu intento para que possamos compreender que a nossa missão é global, mas que também precisa ser cumprida dentro das fronteiras em que estamos incluídos.
Todos nós somos missionários do Senhor, por isso, devemos orar como diz o apóstolo Paulo: “orar por nós mesmo e por todos aqueles que levam a mensagem do Evangelho”, para que seja proclamada abertamente em todos os recantos deste mundo.
Rev. Fred Souto é presbítero da Igreja Anglicana, Diocese do Recife; faz parte do Arcediagado Centro. É autor das da série de meditações do Maná do Senhor.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Entrega.


Deixe pra lá! Releve! Perdoe!
 Tenho percebido que essas são palavras difíceis para algumas pessoas, e fáceis para outras. E o que está por trás dessas atitudes me intriga.
 Parece que algumas pessoas têm uma grande capacidade de “deixar pra lá”, de relevar uma ofensa, de esquecer um agravo. É como se não se apegassem às coisas. Na hora da perda, não sofrem muito. Porém, não lutam tanto pelo que acham importante. Sem luta, não há vitória.
 Outras parecem incapazes de abrir mão. Então, tudo o que a vida lhes tira, produz a dor de um assalto, de uma violência.
 Entre estas últimas, as que mais me chamam atenção são aquelas que não “abrem mão” de suas razões. Seja em uma simples conversa, que acaba em discussão, seja em uma questão de direito, apegam-se às suas razões até às lágrimas. E se, após muitas lutas, essas coisas lhes são “tomadas”, entram em desespero de morte.
 As pessoas do primeiro grupo sofrem menos, por não se apegarem demasiadamente. Não lutam tanto, não retêm tanto. Não perdem muito, mesmo quando são abusadas.
 Entretanto, conheço gente que é capaz de se lembrar de todas as violências sofridas ao longo da vida. Coisas que lhes foram tiradas, batalhas perdidas, conversas encerradas, desconsiderações, injustiças, votos vencidos, estão todos lá, no depósito de passivos, de haveres, aguardando ressarcimento.
 Sim, a vida (que acaba assumindo nomes de pessoas) lhes deve. Se algo nunca foi entregue, então lhes foi tomado. Se nunca foi perdoado, ainda é “dívida ativa”. Se nunca foi esquecido, está registrado para oportuna cobrança.
 Talvez uma pessoa assim considere aquele que “deixa pra lá” um leviano. E talvez o que releva e esquece considere aquele que não “abre mão” um infeliz briguento.
 Lembro-me de ter “deixado pra lá” direitos de consumidor, só para não arranjar briga. Porém, lembro-me de ter “pendurado” ofensas, aguardando o pedido de desculpas. Recordo-me de ter dado razão a quem não a tinha, para preservar a amizade, e de ter “aberto mão” da amizade por não achar justo “deixar barato”.
 Certa vez, deparei-me com uma frase usada em um curso para noivos: “O que você prefere: ter razão ou ser feliz?” — como que a dizer que, se eu quisesse ter sempre razão, seria infeliz! Será que essa pergunta não nos ajudaria a definir melhor a qual grupo pertencemos?
 Eu confesso: naquele exato momento me descobri preferindo ter razão. E argumentei para mim mesmo que a felicidade, à custa do que é certo, não vale a pena. Senti-me como a formiga invejosa, criticando a alegria “irresponsável” da cigarra.
 Nesse momento, ouvi a palavra de Paulo aos coríntios conflagrados: “[...] por que não sofreis, antes, a injustiça? Por que não sofreis, antes, o dano?” (1Co 6.7).
 Ocorre-me então que talvez a atitude correta não seja o “deixar pra lá”, mas a entrega. Em vez de esquecer, entrego meus direitos, bens e razões ao reto Juiz. Assim, as coisas não ficarão sem consequência, sem julgamento, sem resposta. Contudo, estarei “deixando pra lá”, em um ato de fé, para ser feliz.
 Imagino que, por esse caminho, Deus me acrescentará o orar pelos meus inimigos e me alegrará ao vê-los abençoados.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O espírito, a índole cristã.


Vocês não sabem e que espécie de espírito vocês são, pois o Filho do homem não veio destruir a vida dos homens, mas para salvá-los. (Lc 9.55)

 Jesus disse isso porque dois de seus discípulos, diante da recusa dos samaritanos em permitir que Jesus pernoitasse em sua aldeia, falaram que, se Jesus quisesse, eles pediriam para que fogo do céu descesse e consumisse aquela comunidade. (Lc 9.51- 54)
 Jesus comunicou-lhes que tal desejo não se coadunava com o espírito de que agora eram. E de que espírito são os alunos de Cristo? Somos portadores de um espírito desarmado, temos uma nova índole, que não contempla nenhum ato de violência, sob qualquer forma, à pessoa humana.
 O protagonista principal do filme estadunidense “Ben Hur”, de 1959, baseado no romance épico, homônimo, de Lew Wallace, ambientado no tempo de Jesus, numa das cenas, diz que as palavras que ouvira de Jesus tiraram a espada de suas mãos.
 Essas palavras do personagem encerram o cerne da questão: Jesus Cristo desarma a gente. É uma ação profunda, que nos leva a compreender que, a começar da motivação e desejo, passando pelos sentimentos, pelos pensamentos, pelas palavras e, finalmente, pelos atos, nada justifica abrigar ou praticar qualquer agressão à pessoa humana.
 Abrigar ou praticar a violência é roubar do outro o valor a que faz jus. Na fé cristã somos estimulados a, sempre, reconhecer e emprestar valor ao outro.
 Na fé cristã o marido, como sacerdote do lar, sacrifica-se pela esposa para que ela se realize como pessoa. A esposa, por sua vez, respeita profundamente ao seu marido, conferindo-lhe a liderança do lar, e sustentando essa liderança diante de todos. É nessa disposição que fraquezas são compensadas e acordos celebrados.
 Na fé cristã os filhos simplesmente obedecem aos pais, e os pais simplesmente são justos com os filhos.
 Na fé cristã todos os relacionamentos são pautados pelo amor, que, fruto do Espírito, que em nós habita, busca, através do perdão, que resolve os problemas emocionais, e da palavra branda, estabelecer a paz e promover a justiça, sem jamais considerar a possibilidade do ataque à pessoa.
 Nada é mais estranho ao espírito cristão que o desrespeito, a virulência verbal, o ataque moral, e a falácia contra o homem.
 Há quem busque na purificação do templo, episódio em que Jesus expulsa os cambistas, o contraponto a esse ensino, mas, Mc 11.11 diz que quando Jesus entrou em Jerusalém, foi ao templo, observou tudo e foi para Betânia, e, no dia seguinte, conscientemente, sem lhes dirigir palavra ou agredi-los, expulsou aos cambistas, ao derrubar o patrimônio espúrio, pondo fim ao comércio abusivo.
 Jesus cumpriu a Bíblia, que não reconhece ao ser humano o direito de amealhar patrimônio por meio da injustiça, pelo contrário, considera tal acúmulo como violência contra a humanidade (Is 5.8), e foi isso que Jesus pôs por terra, e sobre isso a todos ensinou (Mc 11.17), pois, para terem aquele comércio, usavam o átrio dos gentios, lhes impedindo, assim, de cultuarem ao Eterno.
 Foi essa a lógica que Jesus usou quando permitiu que os demônios, que escravizavam ao homem de Gadara, fossem para porcos, cuja criação era proibida pela lei de Deus. Escolheu salvar o homem em detrimento do patrimônio ilícito.
 A índole, o espírito cristão, é forte nos seus valores e sólido em seus compromissos, mas, sempre respeitoso. O cristão sabe de que espírito é.
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Ariovaldo Ramos é escritor, articulista e conferencista sobre a missão da igreja. Foi presidente da AEVB (Associação Evangélica Brasileira), missionário da SEPAL e presidente da Visão Mundial no Brasil. Atualmente é pastor na Comunidade Cristã Reformada, em São Paulo (SP).

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

2013, sem tirar Deus de cena!


Quando as universidades de Oxford, na Inglaterra, de Paris, na França e de Bologna, na Itália, foram fundadas no século 12, a teologia era tida como a rainha das sete ciências ali estudadas.
A relevância de Deus foi perdendo terreno progressivamente. A começar com o advento do Iluminismo e seus expoentes, como Voltaire, Jean-Jacques Rousseau e Immanuel Kant, todos do século 18. Eles não chegaram a negar a existência de Deus, mas abraçaram o deísmo – “a crença num Deus que, como um grande relojoeiro, criou um universo mecânico, deu-lhe corda e depois o deixou entregue à própria sorte, permitindo que trabalhasse de acordo com as leis naturais sem jamais nele intervir” (Tim Dowley). Nessa chamada “Era da Razão”, os intelectuais europeus estabeleceram a razão como árbitro derradeiro de todos os assuntos, desbancando a Bíblia e a doutrina cristã. A fé se enfraquecia e a razão se fortalecia. Mais tarde, no século seguinte, William Gladstone, várias vezes primeiro ministro inglês, diria que essa perda da fé religiosa era “a mais indizível calamidade que poderia abater-se sobre um homem ou sobre a nação”. Eugene Peterson, autor da mais recente paráfrase da Bíblia, afirma categoricamente: “Se tirarmos Deus de cena, substituindo-o por nosso próprio autorretrato cruamente delineado, trocaremos a aspiração em ambição e acabaremos nos tornando arrogantes”. Ele diz ainda que “ser cristão significa aceitar Deus como nosso Criador e Redentor”, pois Deus “é a realidade central de toda a nossa existência”.
A verdade é que, mais cedo ou mais tarde, tudo vai desmoronar ao redor de quem tira Deus de cena. E para sabermos bem o que é desmoronamento – queda dramática de algo construído –, basta que nos lembremos do desmoronamento da imponente estátua de Nabucodonosor. Ela foi derrubada, despedaçada e tornada pó – pó que o vento levou sem deixar nenhum sinal (Dn 2.31-35). Outro exemplo bem mais dramático é o desmoronamento dos dois edifícios mais altos do “World Trade Center”, em Nova York, ambos com 110 andares, que caíram em menos de 100 minutos, matando quase 3 mil pessoas (entre elas 658 funcionários de uma única empresa).

Quando Deus é colocado fora de cena:
Perde-se o rumo e perguntas cruciais – quem sou? De onde vim? para onde vou? – ficam sem resposta.
A vida termina com a morte somatopsíquica e não se pode ter a menor esperança para o além-túmulo.
Jogam-se fora todas as esperanças cristãs até então acumuladas e guardadas, como a ressurreição dos mortos, a morte da morte, a extinção do pecado, o reino de justiça e paz pelo qual sempre ansiamos, a plenitude da glória de Deus e o advento de novos céus e nova terra.
Tudo aquilo que sempre teve valor e era tratado com respeito é desprezado: a Bíblia como a Palavra de Deus, o batismo, a Santa Ceia, o Natal, a Semana da Paixão, a confissão, o perdão de pecados.
Perde-se o paradigma de comportamento baseado no Decálogo e nas Escrituras, que prevê o relacionamento da criatura com o Criador, com a criatura e com a criação.

Se neste 2013, que desponta com o nascer do sol do dia primeiro de janeiro, continuarmos a colocar Deus fora de cena, estaremos dando mais alguns passos em direção ao inevitável desmoronamento de tudo que nos cerca. Só então reconheceremos que tudo aquilo que inventamos para compensar a ausência de Deus era como cisternas tão furadas que pareciam verdadeiras peneiras (Jr. 2.13).
Quem sabe, tomaremos a decisão de viver 2013 sem tirar Deus de cena!

Artigo publicado na seção “Abertura” da revista Ultimato nº 340 (janeiro-fevereiro/2013).