PALAVRAS DE VIDA:

"Sejam bons administradores dos diferentes dons que receberam de Deus. Que cada um use o seu próprio dom para o bem dos outros!." 1 Pedro 4:10

Mostrando postagens com marcador Devocional. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Devocional. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Motivação Errada.


Motivações erradas movem muitas pessoas que encontro por aí. Em nossas igrejas, muitos jovens desastrosamente ainda veem o dinheiro como principal motivação para a escolha de uma carreira. Ser rico não é e nunca será “a coisa mais importante do mundo”. Eis o conselho do Sábio:
“Não gaste suas forças tentando ficar rico; tenha bom senso! As riquezas desaparecem assim que você as contempla; elas criam asas e voam como águias pelo céu” (Pv 23.4,5).
Correr atrás de dinheiro é uma corrida sem chegada. Já reparou como nunca estamos satisfeitos com o que temos? Queremos sempre mais. Nenhum problema, dependendo do que estamos querendo. Passar a vida investindo tempo e inteligência para ganhar dinheiro, por exemplo, poderá trazer riqueza, mas certamente também trará uma sensação ruim de insatisfação, de ainda não estar bom, de ainda não ser o suficiente.
Quando a idade avança, as pessoas começam a se perguntar: “Valeu a pena?”, “ A que preço eu consegui tudo que tenho hoje?”, “De que me adiantou tanto dinheiro?”. Lembre-se de que profissão é algo a ser exercido todos os dias. Já pensou em como seria acordar sem vontade de ir ao trabalho e arrastar-se durante todo o mês pensando somente no salário?
“Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros nos céus, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o teu tesouro, aí também estará o teu coração” (Mt 6.19-21).
Muitas vezes, desejamos o carro novo, as roupas mais caras ou o celular mais moderno. Não há nada de errado em desfrutar de muitas dessas coisas, desde que elas não sejam o centro de nossa vida. A vida é muito valiosa para estar fundamentada em valores tão passageiros. Busque os valores eternos, aqueles que não se desfazem com o tempo. Concentre-se em sua essência: no ser, e não no ter.
______________
Jeverton “Magrão” Ledo é missionário, autor de “Minha Escolha Profissional — o que Deus tem a ver com isso?” (Editora Vida).

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Crescendo em Estatura, Sabedoria e Graça"


Como terá sido a infância de Jesus? A Bíblia não diz muito sobre isso. Um dos poucos episódios é aquele em que o menino, com 12 anos de idade, vai com a família à festa da Páscoa em Jerusalém e acaba ficando por lá. O desespero dos pais em sua procura contrasta com a tranqüila presença de Jesus no templo, onde, conforme o relato de Lucas, todos “ficavam maravilhados com o seu entendimento e com as suas respostas” (Lc 2.47). No final, ele faz um resumo significativo sobre o crescimento desse adolescente: “Jesus ia crescendo em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2.52). 
O evangelista junta diferentes dimensões da adolescência de Jesus e fala do seu crescimento diante de Deus e diante dos olhos humanos. Assim, sobre ele se poderiam ouvir comentários comuns à vida de qualquer criança ou adolescente: “Como você está adiantado para sua idade!”; “Nossa! Como esse menino cresceu!”... Mas também haveria comentários sobre uma “estranha intimidade” dele com Deus, na qual se começava a discernir um caminho de vocação que enriquece a vida e co-constrói a sociedade. É muito bonito perceber esse crescimento harmônico e integrado na vida do jovem Jesus. 
A fé cristã é assim. Ela envolve a pessoa por inteiro e afeta todas as áreas da vida. Ela é significativa, tanto para crianças como para idosos, tanto para o indivíduo como para a comunidade. Ela abrange tudo o que somos: nosso coração, envolvendo nossos sentimentos; nossos pés, determinando nossos caminhos de vida; nossas mãos, numa expressão de nossas habilidades artesanais e construtoras; nossos braços, expressando-se em acolhimento e abraço; e nosso conhecimento, como expressão da nossa capacidade de entendimento. 
Na história das missões modernas, por exemplo, vê-se bem como isso se corporificou. Apesar de todos os intentos civilizatórios que caracterizaram essa história, acontece a mobilização não somente do evangelista, mas também do médico, do enfermeiro, do agrônomo e do educador. Junto com a decisão de traduzir a Bíblia havia também o empenho por promover o crescimento integral das pessoas. Assim, na estação missionária, havia não somente uma igreja, mas também uma escola e um hospital.
 Hoje, como ontem, se vê a importância do crescimento integral. Um conhecimento que integre as diferentes dimensões da vida e que passe pela veia da educação, seja ela formal ou informal. Uma educação que ensine as letras, que ajude a descobrir o mundo, o outro e a si mesmo, e que se torne um instrumento central na construção da sociedade. O que aconteceu com Jesus — educado nas letras do Antigo Testamento* e aprendendo a ler, a conhecer a história do seu povo e a projetar a vivência da sua fé para dentro da sua realidade — precisa acontecer com os filhos do nosso tempo. 

Meta do Milênio 2 
Ao abordarmos a segunda Meta do Milênio — Educação básica e de qualidade para todos — nos sentimos absolutamente em casa, pois é exatamente para isso que a fé cristã nos empurra. É porque a fé busca o entendimento que queremos que todos conheçam o caminho das letras, entendam e participem da sociedade e encontrem nela caminhos dignos de vida, trabalho e construção social. 
O objetivo desta meta é que até o ano 2015 todos os meninos e meninas tenham acesso à educação básica e a completem. Neste particular o Brasil vai bem, e os dados do IBGE indicam que no final do século passado 96,9% das crianças de 7 a 14 anos estavam na escola. Nosso grande desafio é que, além de achar o caminho da escola, as crianças permaneçam lá e sejam alfabetizadas. O fato é que, de cada dez alunos que concluem a primeira série, apenas três estão alfabetizados de forma satisfatória. A não-alfabetização é a maior causa do abandono e da reprovação escolar nos primeiros anos do ensino fundamental. Alunos não alfabetizados são estigmatizados, têm a auto-estima comprometida e acabam abandonando a escola.
 Investir na educação é uma tarefa básica de governo; e ele precisa passar de 4% a 8% do PIB até 2011, para que até 2015 esse objetivo do milênio seja alcançado. Outras instituições, como a Visão Mundial, também precisam e investem na educação. Assim, para quem trabalha com crianças, a ida e permanência delas na escola é um indicador não só de um trabalho bem feito, mas de uma criança que se encaminha para uma vida digna e com sentido. 
As igrejas têm responsabilidade com a educação. Além de manter bons programas de “culto infantil” para os nossos filhos, devem expressar essa responsabilidade também num posicionamento na sociedade que busque proporcionar educação para todos. Não raro, isso passa pela criação de programas de educação, principalmente na periferia das cidades e nas áreas esquecidas da nossa sociedade. 
Além disso, é responsabilidade da nossa empresa missionária colocar o objetivo da educação no seu “kit ministerial”. Assim, o despertamento de educadores para o campo missionário nunca será esquecido e a educação será priorizada onde quer que formos. 

Alcançar esta “meta do milênio” é, pois, também a meta daqueles que abraçam a fé e são convidados e desafiados a crescer em sabedoria, estatura e graça. 

Nota 
* Em Deuteronômio 4.9, por exemplo, está escrito: “Apenas tenham muito cuidado! Tenham muito cuidado para que vocês nunca se esqueçam das coisas que os seus olhos viram; conservem-nas por toda a sua vida na memória. Contem-nas a seus filhos e a seus netos”. 


Valdir Steuernagel é pastor luterano e trabalha com a Visão Mundial Internacional e com o Centro de Pastoral e Missão, em Curitiba, PR. É autor de, entre outros, Para Falar das Flores... e Outras Crônicas

Extraído de: Revista Ultimato – Edição 308

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Plenitude da Espera.


Qualquer espera é dolorosa. A espera de um dia, a espera de sete dias, a espera de vinte anos... Quanto mais a espera de dois milênios!
Saul teve que esperar sete dias para se encontrar outra vez com Samuel para ser por ele devidamente orientado (1 Sm 10.8). Isaque e Rebeca esperaram 20 anos para se tornarem pais dos gêmeos Esaú e Jacó (Gn 25.19-26). Abraão e Sara esperaram 25 anos para se tornarem pais de Isaque (Gn 12.4; 20.5). O povo de Israel esperou 70 anos para regressar à sua própria terra, depois do cativeiro babilônico (Jr 29.10). Entre a profecia de Isaías a respeito de um menino cujo nome seria Conselheiro, Maravilhoso, Deus Poderoso, Pai Eterno e Príncipe da Paz (Is 9.5) e o nascimento de Jesus, a espera foi de no mínimo sete séculos.
Todavia, a plenitude da espera é a espera do Noivo. A espera começou no dia da ascensão de Jesus, quando dois homens vestidos de branco prometeram à igreja primitiva: “Este mesmo Jesus, que dentre vocês foi elevado ao céu, voltará da mesma forma como o viram subir” (At 1.9-11). Essa espera já dura dois milênios, ou 20 séculos, ou 730 mil dias, ou 17 milhões e meio de horas. É uma espera extenuante. Até agora nenhum vigia deu o grito mais esperado da História: “O noivo se aproxima! Saiam para encontrá-lo!” (Mt 25.6).
Enquanto alguns já desistiram de esperar e dão outras interpretações à promessa dos dois homens vestidos de branco, muitos agarram-se cada vez mais a esta esperança e evitam reclamar por tão longa demora. Os pastores do rebanho aflito dizem: “A noite está quase acabando; o dia logo vem” (Rm 12.12). Há aqueles que justificam a plenitude da demora dizendo que ela é útil para alcançar também os retardatários, os que ainda estão ouvindo a mensagem e se apossando da bendita esperança (2 Pe 3.9).
Nessa espera, a noiva, que é a igreja, come do pão e bebe do vinho, e ouve vez após vez o oficiante da Ceia do Senhor repetir: — Façam isto “até que Ele venha” (1 Co 11.26).

Extraído de: Revista Ultimato – Edição 258

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A Palavra Mais Solene do Mundo.


A palavra salvação é uma palavra muito solene. Por ser mencionada com freqüência pelos pregadores do evangelho ao redor do mundo e em todos os tempos, ela tem se tornado vulgar. 
O antônimo de salvação é perdição. Não há necessidade de salvação se não há perdição. Como, hoje em dia, a palavra perdição é por demais questionada, questiona-se também, obrigatoriamente, a palavra salvação. Questionando-se ambas as palavras, questiona-se toda a estrutura do cristianismo. Não havendo nem perdição nem salvação, obviamente não há Salvador. Jesus Cristo deixa de ser o que é — “Sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo” (Jo 4.42) — e se torna um personagem simplesmente histórico. Se Ele não é o Salvador do mundo, a expiação realizada na cruz é lorota. Jesus deixa de ser o Salvador para ser um mártir, como Joana d’Arc ou Martin Luther King. 
Além de muito solene, a palavra salvação é muito ampla. Ela abarca a salvação da culpa do pecado, a salvação do poder do pecado e a salvação da presença do pecado. Diz-se que a salvação da culpa do pecado é a justificação do pecador por meio da fé; a salvação do poder do pecado é a santificação do pecador por meio da autonegação; e a salvação da presença do pecado é a glorificação do pecador por meio do novo corpo e dos novos céus e nova terra. Daí serem corretas as afirmações: fui salvo, estou sendo salvo e serei salvo. Salvos da culpa do pecado ontem, salvos do poder do pecado hoje e salvos da presença do pecado amanhã: salvação no passado, salvação no presente e salvação no futuro. 
A pregação do evangelho é o anúncio da salvação: Jesus salva o pecador da perdição, da condenação, do dia do juízo, das algemas eternas, do fogo eterno, das penas eternas, da morte eterna, do inferno ou do figurado lago de fogo e enxofre. Ele nos salva da separação definitiva e irreversível de Deus e dos que aceitam e experimentam a salvação. 
Hoje há uma distorção enorme do anúncio da salvação. Pregam-se salvação da enfermidade física, salvação do sofrimento, salvação da miséria, salvação da auto-imagem. Tudo isso pode estar embutido eventualmente na salvação do pecado, mas não é a salvação maior, projetada pela misericórdia e pelo amor de Deus. 
O anúncio da salvação confunde-se hoje com o convite de adesão a certo credo cristão (católico, ortodoxo ou protestante), a uma denominação evangélica (batista, presbiteriana, metodista, assembleiana, luterana, episcopal etc) e a um tipo de igreja (histórica ou tradicional, pentecostal ou carismática). Prega-se mais as virtudes de cada uma dessas expressões de culto do que as virtudes “daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe 2.9). É preciso saber se estamos enchendo as igrejas de salvos ou de adeptos desta ou daquela religião. Essa concorrência religiosa não pode esconder dos peca- dores o significado por demais solene e amplo da palavra salvação.


Extraído de: Revista Ultimato – Edição 255

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Deus está sempre em ação.


Deus é o sujeito dos verbos abrir e fechar, construir e destruir, ajuntar e espalhar, enaltecer e humilhar, aproximar-se e distanciar-se, perdoar e acusar, salvar e condenar, enxugar e produzir lágrimas, derramar graça e derramar ira, cuidar e abandonar, adoecer e curar, trazer e recolher o fôlego de vida, dar e reter, e muitos outros.
 Por ser o doador da vida, o criador do céu e da terra, o Senhor dos senhores, o Rei dos reis, o Deus dos deuses, o Soberano Senhor -- Deus faz o que quer, com quem quer, como quer, onde quer e quando quer. Ele é absolutamente livre, absolutamente sábio, absolutamente justo e absolutamente poderoso. Um deus sem essas prerrogativas não seria Deus.
 Nem sempre o que Deus faz parece certo, parece justo, parece bom. Porém os cristãos mais próximos dele e mais cheios dele aprendem a respeitá-lo, a não discutir com ele, a não brigar com ele, a não abandoná-lo por causa de suas ações aparentemente estranhas e incompreensíveis. Eles aprendem a dar tempo ao tempo e esperar o desenrolar de tudo. Assim como o leitor de um romance não se assusta com a complicação e confusão do enredo, na certeza de que no final o autor vai deixar tudo esclarecido, os cristãos confessam que não têm sabedoria suficiente para acompanhar Deus, porque ele é muito maior, e confiam nele. Um bom número de cristãos acredita piamente, como Paulo, que “cada detalhe em nossa vida de amor a Deus é transformado em algo muito bom” (Rm 8.23). Não é à toa que o primeiro livro da Bíblia começa com a criação dos céus e da terra (Gn 1.1) e o último termina com a criação do novo céu e nova terra (Ap 21.1).
 O Salmo 107 e o capítulo 2 de Lamentações de Jeremias, por exemplo, chamam atenção para esse choque de verbos. No primeiro, Deus liberta o seu povo, tirando-o das mãos de seus inimigos, e faz com que ele volte do exílio para a sua terra; dá água aos que têm sede e coisas boas para comer aos que estão com fome; livra-o de suas muitas aflições, tira-o da escuridão e quebra em pedaços as correntes que o prendiam; derruba portões de bronze e despedaça barras de ferro; cura-o e salva-o da morte; estando ele em perigo no alto mar, Deus acalma a tempestade e deixa quietas as ondas bravias; e realiza para ele coisas maravilhosas. No entanto, no outro texto, o mesmo Deus trata o mesmo povo de modo muito diferente. Deus joga por terra, humilhados, o reino de Judá e suas autoridades; acaba de vez com o poder de Israel e, quando os inimigos dele se aproximam, ele não o ajuda e ainda se joga contra o povo; aponta as suas flechas contra os judeus e mata as pessoas mais estimadas entre eles; derruba as fortalezas e arrasa os palácios de Jerusalém; abandona o templo e deixa que os inimigos derrubem suas paredes.
 No contexto de ambas as passagens (o Salmo 107 e o capítulo 2 de Lamentações de Jeremias) está a explicação para o fenômeno em pauta. O Deus que abençoa e o Deus que retira a sua bênção é o mesmo. Basta recordar a afirmação de Tiago: “[No Pai das luzes] não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tg 1.17). Para esclarecer e enfatizar mais, vale a pena consultar outras versões. Na Bíblia do Peregrino: Deus “não está sujeito a fases nem períodos obscuros”; na Edição Pastoral Catequética: Em Deus “não há mudança nem mesmo aparência de instabilidade”; na Tradução Ecumênica da Bíblia: Em Deus “não existe nem hesitação nem sombra de dúvida ou movimento”; em A Mensagem: “Em Deus existe plena firmeza, nele não existe instabilidade”; e na Nova Versão Internacional: Deus “não muda como sombras inconstantes”.
 Deus está sempre em ação, tanto para descomplicar como para complicar. Precisamos ficar atentos ao amor bondoso e à terrível severidade que coexistem em Deus: misericórdia zero em algumas situações e bondade total em outras (Rm 11.22)!

Extraído de: Revista Ultimato – Edição 338

domingo, 27 de janeiro de 2013

A ruína que se acha “casa” e pensa ser luz.


Uma música muito tocada nos ajuntamentos comunitários é a canção “Casa”, da banda Palavrantiga. Ela diz que somos “casa, lugar de Deus”, também diz que “estamos em obra” e que só um dia alcançaremos a perfeição.
É bem verdade que jamais seremos perfeitos nesse mundo. Somos obra inacabada e que, apesar de refeita por Deus, ainda precisa de reparos e cuidados diariamente. Entretanto, na condição de “nascidos de novo”, creio que há mudanças indispensáveis que, de fato, determinam quem somos: se somos luz, ou trevas, casa ou uma velha ruína. Afinal, que sentido faz sermos uma casa sem iluminação?
Acontece que muitos, mas muitos mesmo, que se dizem filhos de Deus, nascidos de novo, raça eleita, portadores do Espírito Santo, luz do mundo, ainda não compreenderam coisas tão simples que dispensam qualquer estudo teológico recheado de exegese, hermenêutica ou algo do tipo. Para ser luz, não precisa de tanta conjectura. Veja só:
Cristo disse: Os olhos são a candeia do corpo. Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz. Mas se os seus olhos forem maus, todo o seu corpo será cheio de trevas” [Mt 6.22-2].
Pessoal, não duvido que seja raro encontrar gente cheia de trevas achando ser luz.
Lamento por perceber uma multidão de súditos que se dizem entendedores da Graça de Deus, que se esmeram no estudo bíblico para exibirem seus dotes teológicos, que fazem fronte ao evangelho equivocado, mas que, infelizmente, no teste do cotidiano, se mostram pessoas de difícil convivência, que destilam seu veneno de prepotência, intolerância, que fazem de seus álibis a detenção de uma verdade discursiva, apenas. Gente que não sabe diferenciar ideias de pessoas, divergências de convivência. Gente que só no olhar não transmite um pingo de paz, amor e graça.
Este tal “cristão” é aquele tipo de “casa” que tem como manutenção de si as desgraças alheias. É gente que geralmente vibra diante das fraquezas do próximo e justifica seus deslizes nas falhas de outros que chama de irmãos. Gente que se faz de forte, mas na hora do “vamo ver” abandona a cruz. Este é o tipo de “casa” que sabe que vive em um local de esgoto, mas se imagina em um jardim perfumado.
Fico triste em notar que esse tipo de gente traz em si a “marca da lei”, que é um exímio observador, mas, infelizmente, torna-se um amplificador de erros. É o portador do semblante reprovador, condenador.
Agora, o mais lamentável é que, neste texto, não me refiro àqueles falsos mestres, que tanto alertamos e combatemos. Refiro-me às pessoas que por fora são até apresentáveis “cristãos”, mas que no conjunto da obra, ainda são uma ‘ruína velha’ que necessita de uma grande reforma. O que falta então? Simples. Novas janelas para casa e uma boa iluminação.
____________________
Antognoni Misael é professor de música (UFPB) , historiador (UEPB), membro da Igreja Presbiteriana do Brasil (Guarabira-PB) e escreve no blog “arte de chocar“. Texto originalmente publicado no blog do autor. Direitos reservados. Reprodução autorizada.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Filhos, obedeçam aos seus pais.


Recentemente, ao fazer minha leitura devocional, me deparei com o texto de Mateus 12.46-50, o qual me deixou pensativa. As palavras de Jesus “quem é a minha mãe, e quem são meus irmãos?” sempre me soaram fortes; afinal, a família e, principalmente, o papel da mãe são muito importantes na cultura latino-americana.
 Como entender a relação de Jesus com sua mãe neste texto e em João 2.4, no qual ele lhe diz: “Que temos nós em comum, mulher?”.
 Ao lermos outros textos que falam sobre o relacionamento familiar de Jesus, percebemos um equilíbrio entre a submissão do filho aos pais e o desenvolvimento da identidade dele.
 Já na adolescência de Jesus (Lc 2.41-52) verificamos este processo: após ficar em Jerusalém sem que os pais o soubessem, Jesus tem a liberdade de dar explicações. Seus pais o ouvem e, mesmo sem entender, respeitam suas colocações. Depois Jesus volta com eles para casa e lhes é submisso. Nós também temos que ter esta prática em nossa vida familiar: os filhos precisam fazer exercícios de independência, mas também saber respeitar e ser submissos. Os textos de João e Mateus, no entanto, nos contam de um Jesus adulto, que tem um ministério a cumprir.
 Alguns pais permanecem demasiadamente ligados aos filhos adultos e esperam que eles continuem submissos, mesmo quando já são casados ou têm vida própria e independência financeira. Cria-se um relacionamento misturado e dependente, prejudicial ao processo de amadurecimento familiar. Pais acreditam que é necessário continuar vivendo de forma que os filhos lhes prestem contas de todos os aspectos de sua vida.
 Jesus não agiu desta forma. Ele sabia qual era o seu ministério e, apesar de usar palavras duras para com a sua mãe, em vez de ficar ofendida, ela ordena que os empregados façam tudo o que ele mandar (Jo 2.5).
 Nós pais temos muito a aprender com essa atitude de Maria -- observar como se processa a vida de nossos filhos; apoiá-los, sem achar que por termos mais experiência sempre sabemos o que é melhor para eles; aceitar que nem sempre poderemos fazer parte da vida deles, pois precisam de independência para cumprir os próprios mandatos.
 É importante que os filhos desenvolvam suas habilidades pessoais, mesmo que estas não sigam os costumes familiares. Jesus era filho de um carpinteiro e, na cultura da época, o comum seria que ele seguisse a profissão do pai. Na minha prática terapêutica, vejo algumas famílias tão fusionadas que não existe espaço para que os jovens adultos busquem sua identidade profissional. Jesus teve esta liberdade de escolha e a família soube respeitar seu ministério.
 Mesmo quando Jesus usou palavras duras para afirmar sua identidade adulta, ele não faltou com respeito e cuidado com os pais. Na hora do seu maior sofrimento, na cruz, ele não se esqueceu da mãe, então desamparada, mas voltou-se para ela e lhe apresentou um “novo filho”, que iria cuidar de suas necessidades. Jesus sabia manter o equilíbrio entre autonomia, pertencimento e cuidado.
 Nos textos de Atos, lemos que Maria estava integrada no meio dos seguidores de Jesus. Ela certamente foi uma mulher sábia, que soube dar o espaço necessário ao desenvolvimento do filho. Não ficou magoada nas vezes em que ele não aceitou falar com ela e, por sua atitude, confirmou o ministério de Jesus.
 Sejamos também pais sábios, que dão espaço aos filhos para que eles possam se desenvolver como adultos autônomos, respeitando-os como indivíduos responsáveis, mesmo quando não os entendemos.

Carlos “Catito” e Dagmar são casados, ambos psicólogos e terapeutas de casais e de família. São autores de Pais Santos, Filhos nem Tanto.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Missão Global.


“Perseverai na oração, vigiando com ações de graças. Suplicai, ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos abra porta à palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual também estou algemado; para que eu o manifeste, como devo fazer”. Colossenses 4.2-4
Eu sempre tive uma grande admiração pelos servos do Senhor que abrem mão de tudo em suas vidas para servi-lo. Homens e mulheres que se dispõem a pregar o Evangelho nos lugares mais distantes, sob as condições mais inóspitas. Alguns sofrendo até o risco de morte, pregando em lugares que não aceitam outra forma de fé, a não ser a deles e que, por isso, agem de forma violenta para afastar os que pregam algo diferente da sua cultura religiosa.
O apóstolo Paulo fez da sua vida uma prática missionária, levando o Evangelho do Senhor para muitas cidades e pessoas que ainda não haviam conhecido a fé em Cristo Jesus. Abriu mão de suas convicções, viveu pela pregação do Cristo e este crucificado e ressurreto. Esta vida, apesar de gloriosa para o Reino de Deus, não foi bem entendida pelo mundo, o que fez terminar seus dias na prisão, onde encontrou a morte. Mas, mesmo lá, movido pela força do Espírito Santo, ele não deixou de pregar um só dia os mistérios de Cristo.
Embora o meu ministério tenha um caráter urbano, sei que podemos nos dedicar à oração e/ou ao sustento de missionários que, movidos pelo Senhor, alargam as suas fronteiras e saem a proclamar o Evangelho em outras terras. Entretanto, mesmo crendo que a nossa missão nos impulsiona a alcançar outras terras, só entendo um chamado que me leva para outros continentes, se antes me levar ao coração daqueles que estão do meu lado. Não consigo compreender uma indicação para missão sem a manifestação da comunidade local que apoia e supre as necessidades missionárias do servo enviado.
Creio no chamado de Deus e na sua promessa de suprir as nossas necessidades e de estar conosco por onde quer que andemos. Mas continuo com a firme convicção de que as palavras de Jesus revelam o seu intento para que possamos compreender que a nossa missão é global, mas que também precisa ser cumprida dentro das fronteiras em que estamos incluídos.
Todos nós somos missionários do Senhor, por isso, devemos orar como diz o apóstolo Paulo: “orar por nós mesmo e por todos aqueles que levam a mensagem do Evangelho”, para que seja proclamada abertamente em todos os recantos deste mundo.
Rev. Fred Souto é presbítero da Igreja Anglicana, Diocese do Recife; faz parte do Arcediagado Centro. É autor das da série de meditações do Maná do Senhor.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Entrega.


Deixe pra lá! Releve! Perdoe!
 Tenho percebido que essas são palavras difíceis para algumas pessoas, e fáceis para outras. E o que está por trás dessas atitudes me intriga.
 Parece que algumas pessoas têm uma grande capacidade de “deixar pra lá”, de relevar uma ofensa, de esquecer um agravo. É como se não se apegassem às coisas. Na hora da perda, não sofrem muito. Porém, não lutam tanto pelo que acham importante. Sem luta, não há vitória.
 Outras parecem incapazes de abrir mão. Então, tudo o que a vida lhes tira, produz a dor de um assalto, de uma violência.
 Entre estas últimas, as que mais me chamam atenção são aquelas que não “abrem mão” de suas razões. Seja em uma simples conversa, que acaba em discussão, seja em uma questão de direito, apegam-se às suas razões até às lágrimas. E se, após muitas lutas, essas coisas lhes são “tomadas”, entram em desespero de morte.
 As pessoas do primeiro grupo sofrem menos, por não se apegarem demasiadamente. Não lutam tanto, não retêm tanto. Não perdem muito, mesmo quando são abusadas.
 Entretanto, conheço gente que é capaz de se lembrar de todas as violências sofridas ao longo da vida. Coisas que lhes foram tiradas, batalhas perdidas, conversas encerradas, desconsiderações, injustiças, votos vencidos, estão todos lá, no depósito de passivos, de haveres, aguardando ressarcimento.
 Sim, a vida (que acaba assumindo nomes de pessoas) lhes deve. Se algo nunca foi entregue, então lhes foi tomado. Se nunca foi perdoado, ainda é “dívida ativa”. Se nunca foi esquecido, está registrado para oportuna cobrança.
 Talvez uma pessoa assim considere aquele que “deixa pra lá” um leviano. E talvez o que releva e esquece considere aquele que não “abre mão” um infeliz briguento.
 Lembro-me de ter “deixado pra lá” direitos de consumidor, só para não arranjar briga. Porém, lembro-me de ter “pendurado” ofensas, aguardando o pedido de desculpas. Recordo-me de ter dado razão a quem não a tinha, para preservar a amizade, e de ter “aberto mão” da amizade por não achar justo “deixar barato”.
 Certa vez, deparei-me com uma frase usada em um curso para noivos: “O que você prefere: ter razão ou ser feliz?” — como que a dizer que, se eu quisesse ter sempre razão, seria infeliz! Será que essa pergunta não nos ajudaria a definir melhor a qual grupo pertencemos?
 Eu confesso: naquele exato momento me descobri preferindo ter razão. E argumentei para mim mesmo que a felicidade, à custa do que é certo, não vale a pena. Senti-me como a formiga invejosa, criticando a alegria “irresponsável” da cigarra.
 Nesse momento, ouvi a palavra de Paulo aos coríntios conflagrados: “[...] por que não sofreis, antes, a injustiça? Por que não sofreis, antes, o dano?” (1Co 6.7).
 Ocorre-me então que talvez a atitude correta não seja o “deixar pra lá”, mas a entrega. Em vez de esquecer, entrego meus direitos, bens e razões ao reto Juiz. Assim, as coisas não ficarão sem consequência, sem julgamento, sem resposta. Contudo, estarei “deixando pra lá”, em um ato de fé, para ser feliz.
 Imagino que, por esse caminho, Deus me acrescentará o orar pelos meus inimigos e me alegrará ao vê-los abençoados.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O espírito, a índole cristã.


Vocês não sabem e que espécie de espírito vocês são, pois o Filho do homem não veio destruir a vida dos homens, mas para salvá-los. (Lc 9.55)

 Jesus disse isso porque dois de seus discípulos, diante da recusa dos samaritanos em permitir que Jesus pernoitasse em sua aldeia, falaram que, se Jesus quisesse, eles pediriam para que fogo do céu descesse e consumisse aquela comunidade. (Lc 9.51- 54)
 Jesus comunicou-lhes que tal desejo não se coadunava com o espírito de que agora eram. E de que espírito são os alunos de Cristo? Somos portadores de um espírito desarmado, temos uma nova índole, que não contempla nenhum ato de violência, sob qualquer forma, à pessoa humana.
 O protagonista principal do filme estadunidense “Ben Hur”, de 1959, baseado no romance épico, homônimo, de Lew Wallace, ambientado no tempo de Jesus, numa das cenas, diz que as palavras que ouvira de Jesus tiraram a espada de suas mãos.
 Essas palavras do personagem encerram o cerne da questão: Jesus Cristo desarma a gente. É uma ação profunda, que nos leva a compreender que, a começar da motivação e desejo, passando pelos sentimentos, pelos pensamentos, pelas palavras e, finalmente, pelos atos, nada justifica abrigar ou praticar qualquer agressão à pessoa humana.
 Abrigar ou praticar a violência é roubar do outro o valor a que faz jus. Na fé cristã somos estimulados a, sempre, reconhecer e emprestar valor ao outro.
 Na fé cristã o marido, como sacerdote do lar, sacrifica-se pela esposa para que ela se realize como pessoa. A esposa, por sua vez, respeita profundamente ao seu marido, conferindo-lhe a liderança do lar, e sustentando essa liderança diante de todos. É nessa disposição que fraquezas são compensadas e acordos celebrados.
 Na fé cristã os filhos simplesmente obedecem aos pais, e os pais simplesmente são justos com os filhos.
 Na fé cristã todos os relacionamentos são pautados pelo amor, que, fruto do Espírito, que em nós habita, busca, através do perdão, que resolve os problemas emocionais, e da palavra branda, estabelecer a paz e promover a justiça, sem jamais considerar a possibilidade do ataque à pessoa.
 Nada é mais estranho ao espírito cristão que o desrespeito, a virulência verbal, o ataque moral, e a falácia contra o homem.
 Há quem busque na purificação do templo, episódio em que Jesus expulsa os cambistas, o contraponto a esse ensino, mas, Mc 11.11 diz que quando Jesus entrou em Jerusalém, foi ao templo, observou tudo e foi para Betânia, e, no dia seguinte, conscientemente, sem lhes dirigir palavra ou agredi-los, expulsou aos cambistas, ao derrubar o patrimônio espúrio, pondo fim ao comércio abusivo.
 Jesus cumpriu a Bíblia, que não reconhece ao ser humano o direito de amealhar patrimônio por meio da injustiça, pelo contrário, considera tal acúmulo como violência contra a humanidade (Is 5.8), e foi isso que Jesus pôs por terra, e sobre isso a todos ensinou (Mc 11.17), pois, para terem aquele comércio, usavam o átrio dos gentios, lhes impedindo, assim, de cultuarem ao Eterno.
 Foi essa a lógica que Jesus usou quando permitiu que os demônios, que escravizavam ao homem de Gadara, fossem para porcos, cuja criação era proibida pela lei de Deus. Escolheu salvar o homem em detrimento do patrimônio ilícito.
 A índole, o espírito cristão, é forte nos seus valores e sólido em seus compromissos, mas, sempre respeitoso. O cristão sabe de que espírito é.
 _________
Ariovaldo Ramos é escritor, articulista e conferencista sobre a missão da igreja. Foi presidente da AEVB (Associação Evangélica Brasileira), missionário da SEPAL e presidente da Visão Mundial no Brasil. Atualmente é pastor na Comunidade Cristã Reformada, em São Paulo (SP).

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

2013, sem tirar Deus de cena!


Quando as universidades de Oxford, na Inglaterra, de Paris, na França e de Bologna, na Itália, foram fundadas no século 12, a teologia era tida como a rainha das sete ciências ali estudadas.
A relevância de Deus foi perdendo terreno progressivamente. A começar com o advento do Iluminismo e seus expoentes, como Voltaire, Jean-Jacques Rousseau e Immanuel Kant, todos do século 18. Eles não chegaram a negar a existência de Deus, mas abraçaram o deísmo – “a crença num Deus que, como um grande relojoeiro, criou um universo mecânico, deu-lhe corda e depois o deixou entregue à própria sorte, permitindo que trabalhasse de acordo com as leis naturais sem jamais nele intervir” (Tim Dowley). Nessa chamada “Era da Razão”, os intelectuais europeus estabeleceram a razão como árbitro derradeiro de todos os assuntos, desbancando a Bíblia e a doutrina cristã. A fé se enfraquecia e a razão se fortalecia. Mais tarde, no século seguinte, William Gladstone, várias vezes primeiro ministro inglês, diria que essa perda da fé religiosa era “a mais indizível calamidade que poderia abater-se sobre um homem ou sobre a nação”. Eugene Peterson, autor da mais recente paráfrase da Bíblia, afirma categoricamente: “Se tirarmos Deus de cena, substituindo-o por nosso próprio autorretrato cruamente delineado, trocaremos a aspiração em ambição e acabaremos nos tornando arrogantes”. Ele diz ainda que “ser cristão significa aceitar Deus como nosso Criador e Redentor”, pois Deus “é a realidade central de toda a nossa existência”.
A verdade é que, mais cedo ou mais tarde, tudo vai desmoronar ao redor de quem tira Deus de cena. E para sabermos bem o que é desmoronamento – queda dramática de algo construído –, basta que nos lembremos do desmoronamento da imponente estátua de Nabucodonosor. Ela foi derrubada, despedaçada e tornada pó – pó que o vento levou sem deixar nenhum sinal (Dn 2.31-35). Outro exemplo bem mais dramático é o desmoronamento dos dois edifícios mais altos do “World Trade Center”, em Nova York, ambos com 110 andares, que caíram em menos de 100 minutos, matando quase 3 mil pessoas (entre elas 658 funcionários de uma única empresa).

Quando Deus é colocado fora de cena:
Perde-se o rumo e perguntas cruciais – quem sou? De onde vim? para onde vou? – ficam sem resposta.
A vida termina com a morte somatopsíquica e não se pode ter a menor esperança para o além-túmulo.
Jogam-se fora todas as esperanças cristãs até então acumuladas e guardadas, como a ressurreição dos mortos, a morte da morte, a extinção do pecado, o reino de justiça e paz pelo qual sempre ansiamos, a plenitude da glória de Deus e o advento de novos céus e nova terra.
Tudo aquilo que sempre teve valor e era tratado com respeito é desprezado: a Bíblia como a Palavra de Deus, o batismo, a Santa Ceia, o Natal, a Semana da Paixão, a confissão, o perdão de pecados.
Perde-se o paradigma de comportamento baseado no Decálogo e nas Escrituras, que prevê o relacionamento da criatura com o Criador, com a criatura e com a criação.

Se neste 2013, que desponta com o nascer do sol do dia primeiro de janeiro, continuarmos a colocar Deus fora de cena, estaremos dando mais alguns passos em direção ao inevitável desmoronamento de tudo que nos cerca. Só então reconheceremos que tudo aquilo que inventamos para compensar a ausência de Deus era como cisternas tão furadas que pareciam verdadeiras peneiras (Jr. 2.13).
Quem sabe, tomaremos a decisão de viver 2013 sem tirar Deus de cena!

Artigo publicado na seção “Abertura” da revista Ultimato nº 340 (janeiro-fevereiro/2013).

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O Senhor luta por nós!


O Senhor luta por nós!  Ele conhece os nossos corações, o tempo de nossa vida, os sentimentos não explicados e o ambiente incerto ao redor. E Ele luta por nós.

Ele, que luta por nós, não é um mero valente do seu povo, um guerreiro de grandes vitórias ou um rei amado pela nação. É o Senhor todo poderoso, Criador dos céus e da terra, Governante absoluto de tudo o que existe, Feitor da luz e da vida, Rei dos reis, Controlador do universo, Salvador da humanidade, Resgatador dos perdidos e Pai de seus filhos. E Ele luta por nós.

A convicção de que o Senhor dos Senhores luta por nós produz dois efeitos sobre nossos corações. O primeiro é de descanso, pois aquele que controla todas as coisas controla também a nossa vida. Aquele que rege o universo tem poder sobre nossos corações, relacionamentos, corpos, provisões e futuro. Descansemos no Senhor que luta por nós. Coloquemos perante Ele nossas aflições e peçamos o retorno das noites bem dormidas e do riso aliviado. Ele cuida de nós.

O segundo efeito é de expectativa no Senhor. Se Ele luta por nós, qualquer coisa nova pode acontecer! Qualquer coisa pode mudar, qualquer situação pode ser consertada, qualquer pessoa pode ser quebrantada, qualquer pecado pode ser perdoado. Se Ele luta por nós, podemos, a qualquer momento, ser curados da enfermidade mais profunda que amedronta o corpo e a alma. 

Descansar em Deus e esperar em Deus, porque Ele luta por nós.

Encontramos esta palavra de encorajamento à nossa fé em Deuteronômio. Moisés a proferiu ao povo de Israel em um momento emblemático de sua jornada. Após 40 anos peregrinando no deserto, o povo se vê próximo ao rio Jordão, prestes a entrar na terra prometida. Vivia, assim, o momento de pesado cansaço pela peregrinação longa e árida e, por outro lado, profunda esperança para entrar na terra tão esperada. Moisés, usado por Deus, encoraja o povo lembrando como o Senhor foi fiel no passado. Amanhã não seria diferente. Moisés declara que o povo ainda passará por muitas provações e que aquele não é, enfim, o momento de descanso. E falando sobre reis e reinos que ainda os confrontarão ele lhes diz: “não os temais, pois o Senhor luta por vós” (Dt 3.22). 

A caminhada é longa e ainda não cruzamos o Jordão, mas esta verdade nos levará até o final, na paz de Deus. O Senhor luta por nós!

Extraído de www.ultimato.com.br

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A apoteose que está para vir.

A posição do corpo quando oramos não é relevante. Ora-se em pé, como o rei Josafá (2 Cr 20.5); ora-se assentado, como Elias (1 Rs 19.4); ora-se deitado, como o rei Ezequias (2 Rs 20.2); ora-se de joelhos, como Paulo (At 21.5); ora-se prostrado, com o rosto no chão, como o “homem coberto de lepra” (Lc 5.12); ora-se até mesmo dentro de um grande peixe, como Jonas (Jn 2.1).
Em certas ocasiões preferimos orar de joelhos. Essa é a posição mais mencionada no livro de Atos. Pouco antes de morrer, Estêvão “caiu de joelhos e orou” (At 7.60). A sós onde estava o corpo de Tabita, num quarto do andar superior de uma casa em Jope, hoje bairro de Tel Aviv, Pedro “ajoelhou-se e orou” (At 9.40). Numa praia do Mediterrâneo, defronte a Tiro, no atual Líbano, Paulo reuniu “todos os discípulos, com suas mulheres e filhos”, e com eles se ajoelhou e orou (At 21.5).
Ajoelhar-se significa cair prostrado, abaixar-se, dobrar os joelhos perante o Senhor. É a posição de quem confessa pecado (Ed 9.5), de quem quer expressar profunda gratidão (Lc 17.16), de quem sente necessidade de mostrar reverência (Mc 10.17), de quem está em angústia (Lc 22.41), de quem precisa muito da interferência de Deus (Mt 17.14).
Todas essas lembranças históricas nos levam à apoteose que está para vir:

[Deus exaltou Jesus] à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai (Fp 2.9-11).

Uma apoteose anunciada nas Escrituras

A estrondosa vitória da graça sobre a lei, da esperança sobre o desespero, do permanente sobre o provisório, da eternidade sobre o tempo, do pano novo sobre o remendo, do perdão sobre a culpa, da ressurreição sobre a morte, da luz sobre as trevas, da santidade sobre a perversão, da justiça sobre a injustiça, do bem sobre o mal, da profecia cumprida sobre a utopia, do Apocalipse sobre o Gênesis, dos novos céus e nova terra sobre “os céus e a terra que agora existem” (2 Pe 3.7) — está presente implícita e explicitamente em todas as Escrituras, especialmente nos Salmos:

Todos os confins da terra se lembrarão e se voltarão para o Senhor, e todas as famílias das nações se prostrarão diante dele (Sl 22.27); veja também o versículo 29; Sl 64.9; 86.9; 102.15).

Por mim mesmo eu jurei, a minha boca pronunciou com toda a integridade uma palavra que não será revogada: Diante de mim todo joelho se dobrará; junto a mim toda língua jurará. Dirão a meu respeito: “Somente no Senhor estão a justiça e a força” (Is 45.23,24, NVI).

Cada lua nova e cada sábado, todo mundo virá prostrar-se na minha presença, diz Javé (Is 66.23, EP).

[Deus] nos fez conhecer o mistério da sua vontade, a livre decisão que havia tomado outrora de levar a história à sua plenitude, reunindo o universo inteiro, tanto as coisas celestes como as terrestres, sob uma só Cabeça, Cristo (Ef 1.9,10, EP).

Todas as nações virão à tua presença e te adorarão, pois os teus atos de justiça se tornaram manifestos (Ap 15.4).



Uma apoteose sem igual

De todos os textos nos quais se apóia a esperança da apoteose que está para vir, o mais explícito, o mais conhecido e o mais amplo, sem dúvida, é a passagem da Epístola de Paulo aos Filipenses, que deve ser examinada cuidadosamente.
A idéia central desse texto encontra-se na profecia de Isaías: “Todos os homens, no mundo inteiro, vão se ajoelhar diante de mim e todos vão jurar que serão fiéis” (Is 45.23, BV). Paulo faz uso dessa profecia duas vezes, primeiro na Epístola aos Romanos, lá pelo ano 56 d.C., e depois na Epístola aos Filipenses, por volta de 61 d.C. No primeiro escrito, o apóstolo está tratando de um assunto prático, a questão do bom relacionamento entre os crentes. Lembra que “Cristo morreu e voltou a viver para ser Senhor de vivos e de mortos” e, portanto, ninguém deve julgar nem desprezar o irmão, porque está escrito: “Diante de mim todo joelho se dobrará e toda língua confessará que sou Deus” (Rm 14.11).
Já na Epístola aos Filipenses, o apóstolo descreve o exemplo da profunda humildade de Jesus, que se esvaziou a si mesmo para tornar-se igual a nós e, “sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte e morte de cruz” (Fp 2.5-8). Mas o relato de Paulo não pára na morte nem na sexta-feira: caminha até a ressurreição e o domingo. Também não pára na ressurreição nem no domingo: caminha até a parúsia e anuncia a apoteose que está para vir (Fp 2.9-11). Aquele que havia se rebaixado até a morte de cruz foi exaltado “à mais alta posição” (“acima de tudo”, na versão da CNBB) e recebeu “o nome que está acima de todo nome”, para que “ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus [primeiro nível], na terra [segundo nível] e debaixo da terra [terceiro nível], e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” (Fp 2.10,11).
A apoteose que está para vir é absolutamente certa. Só nos compete saber que ela vai acontecer. Já o dia, o mês, o ano, o século e o milênio, não nos compete conhecer, de acordo com o próprio Jesus, em seus discursos (Mt 24.36) e em sua ascensão (At 1.7).

Uma apoteose globalizada

Se alguém se der ao trabalho de ler e reler todos os textos sobre a apoteose que está para vir não encontrará coisa alguma que não esteja de joelhos diante do Senhor no devido tempo.

Lá estarão seres humanos de ambos os sexos (“moços e moças”) e de toda as idades (“velhos e crianças”), como diz o salmista (Sl 148.12).

Lá estarão “todos os ricos da terra” e “todos os que descem ao pó, cuja vida se esvai”. Uns e outros “haverão de ajoelhar-se diante dele” (Sl 22.29).

Lá estarão “todos os governantes e juízes da terra” (Sl 148.11), “todos os reis da terra” (Sl 138.4) e todos os deuses inventados pela mente humana (Sl 97.7).

Lá estarão “todas as famílias da terra” (Gn 12.3, BJ), “todas as nações da terra” (Gn 18.18, Sl 86.9) “todos os povos” (Sl 47.1, Is 56.7), “todos os confins da terra” (Sl 22.27) e “todas as línguas” (Is 45.23; Fp 2.11).

Lá estarão todos os seres criados não-humanos: os anjos (Sl 103.20), os espíritos imundos (Mc 3.11) e os “exércitos celestiais” (Sl 148.2; Lc 2.13).

Lá estará toda a criação ou “todas as suas obras em todos os lugares do seu domínio” (Sl 103.22) — o mundo, os mais altos céus, as estrelas, o sol e a lua, a terra, os montes e as colinas, o mar e tudo o que nele existe, os campos, os rios, as árvores da floresta, as árvores frutíferas, os cedros, as serpentes marinhas, os animais selvagens, os rebanhos domésticos, as aves, todos os demais seres vivos, todas as profundezas e também os relâmpagos, o granizo, a neve, a neblina e os vendavais (Sl 89.12; 96.11-13; 98.8,9; 103.22; 145.10; 148.3-10; Is 44.23; 49.13; 55.12).



Uma apoteose que não significa salvação universal

É verdade que o mundo inteiro vai dobrar os joelhos diante de Jesus e toda língua vai confessar que Jesus Cristo é o Senhor. Porém esse gesto e essa palavra jamais querem indicar que todos serão salvos. As mesmas Escrituras que anunciam a apoteose que está para vir anunciam também o advento do chamado “dia do juízo”, ao qual Jesus se refere várias vezes (Mt 10.15; 11.22, 24; 12.36), antes mesmo de proferir o sermão profético (ou escatológico), que aparece no final do Evangelho segundo Mateus (25.31-46). Aos filósofos epicureus e estóicos de Atenas, Paulo teve a coragem de declarar que Deus “estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça [uma referência ao dia do juízo], por meio do homem que designou [uma referência a Jesus Cristo]”. O apóstolo ainda acrescentou: “[Deus] deu provas disso a todos, ressuscitando-o dentre os mortos” (At 17.31).
Depois de recordar uma série de juízos menores (em relação ao juízo final), como o dos anjos que pecaram, o do mundo antigo na época do dilúvio e o de Sodoma e Gomorra, o apóstolo Pedro afirma que Deus sabe separar os piedosos dos demais e “manter em castigo os ímpios para o dia do juízo” (2 Pe 2.9). Judas, o irmão de Tiago, repete o discurso de Pedro e ensina que os anjos caídos estão “presos com correntes eternas para o juízo do grande dia”, bem como as cidades de Sodoma e Gomorra e outras ao redor, que “se entregaram à imoralidade e às relações sexuais antinaturais” (Jd 6,7).
O “juízo do grande dia” não absolverá todo mundo. Ao contrário, esse soleníssimo dia vai fazer justiça, separará o trigo do joio (Mt 13.40-43), os peixes bons dos peixes ruins (Mt 13.49,50), as virgens prudentes das virgens insensatas (Mt 25.1-13), o servo bom e fiel do servo mau e negligente (Mt 25.28-30), as ovelhas dos bodes (Mt 25.31-46), os justos dos ímpios (2 Pe 2.9), os crentes dos incrédulos (Rm 1.16), os eleitos dos não-eleitos, os salvos dos perdidos.
Então, é razoável que se questione por que as Escrituras declaram que todo joelho vai se dobrar diante do Senhor, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua vai confessar que Jesus Cristo é o Senhor.
A resposta é muito simples — o mundo inteiro fará isso porque não há outro caminho. Por causa da autoridade inegável e irresistível de Jesus Cristo, porque todos os esforços conjuntos para fazer em pedaços as correntes que os prendem a Deus foram ridículos e inúteis o tempo todo, conforme conta o famoso Salmo Segundo. As nações vão beijar o Filho não por amor, mas por causa de sua ira, de seu governo, de sua majestade, de seu poder, de sua autoridade (Sl 2.12).
Os turistas americanos podem considerar ridícula, pretensiosa e revoltante a obrigação imposta pelo governo brasileiro de exigir deles que se deixem fotografar e registrar suas impressões digitais ao desembarcar no Brasil. Mas são obrigados a se submeter a esse processo por estarem sob nossas leis. O mesmo acontece com os turistas brasileiros nos aeroportos dos Estados Unidos. Não adianta se revoltar contra as normas e tentar desrespeitá-las, como fez o piloto Dale Robbin Hersh no início de janeiro. O aeroviário passou pelo vexame de ser confinado por 36 horas no aeroporto internacional de Guarulhos, e a American Airlines se viu constrangida a pedir desculpas à Polícia Federal.
O ser humano prefere se esconder a vida inteira da ira de Deus. Assim fizeram Adão e Eva (Gn 3.8). Assim se comportou Caim, depois do assassinato do seu irmão Abel (Gn 3.14). O caminho da fuga acabará junto com a história, quando chegar a apoteose que está para vir. O que resta, então, é dobrar o joelho (não necessariamente o coração) diante da autoridade vencedora e proclamar seu absoluto senhorio!
Embora Deus venha mostrando soberanamente sua glória (Êx 7.5; 14.8) e a glória de seu Filho (Lc 9.28-36) de vez em quando, é por ocasião da parúsia — segunda vinda de Jesus “em poder e muita glória” — que a glória total do Senhor será vista e reconhecida por todos. Aí se dará o cumprimento literal e definitivo da profecia de Ezequiel, lá pelos anos 573 a.C.: “Não mais deixarei que o meu nome seja profanado, e as nações saberão que eu, o Senhor, sou o Santo de Israel” (Ez 39.7).

Extraído de Revista Ultimato - Edição 287

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O Orador que não sabia falar.


No livro de Deuteronômio, estão os discursos que Moisés fez quando o povo de Israel estava 
nas proximidades da terra prometida, depois de 40 anos de peregrinação pelo deserto. Ele tinha 120 anos e seus ouvintes, com exceção de Josué e Calebe, menos de 40 anos.
O primeiro discurso é uma exposição da história do povo desde a saída do Egito até aquele dia (Dt 1.1-4.40). O segundo discurso é uma repetição das leis a que o povo estava sujeito (Dt 4.44-28.68). O terceiro discurso é uma descrição da aliança de Deus com o povo (Dt 29.1-30.20). Além destes discursos, estão no quinto livro da lei os últimos conselhos de Moisés (Dt 31.1-32.52) e as bênçãos que ele proferiu para cada uma das doze tribos de Israel (Dt 33.1-29).
Moisés declamou também dois preciosos cânticos. Um, logo depois da travessia do mar Vermelho (Êx 15.1-18), e outro, pouco antes de morrer (Dt 31.30-32.43). É também de sua autoria a oração do salmo 90.
O fato de Moisés ter vencido, com o auxílio prometido de Deus, a dificuldade de falar é impressionante. Ao ser chamado por Deus para tirar o povo de Israel do Egito, ele foi logo dizendo: “Eu nunca tive facilidade para falar, nem antes nem agora, depois que começaste a falar comigo. Quando começo a falar, eu sempre me atrapalho.” (Êx 4.10, BLH.)
Tudo indica que o problema era real. Tanto que Deus prometeu: “Eu o ajudarei a falar e lhe direi o que deve dizer”. Além disso, Arão, que não tinha a mesma dificuldade do irmão, poderia falar no lugar dele, o que de fato aconteceu no início (Êx 4.30; 5.1; 7.1, 2).
Outras duas vezes, Moisés fez menção do seu problema particular: “Eu não tenho facilidade para falar” (Êx 6.12, 30). A essa altura, ele estava com 80 anos. Talvez exagerasse o problema, talvez carregasse alguma experiência traumática a esse respeito, talvez não alimentasse a menor esperança de cura. No entanto, Deus forçou a barra, insistiu e venceu. Progressivamente, Moisés superou a dificuldade de falar, se esqueceu do problema, foi curado das experiências passadas, adquiriu confiança e abriu a boca.
Quando Moisés proferiu os discursos que estão em Deuteronômio, Arão, seu irmão e interlocutor, já havia morrido. Os discursos saíram não de sua pena, mas de sua própria boca. Era, então, “poderoso em palavras e em obras”, de acordo com o registro de Estêvão (At 7.22).

Extraído de: Revista Ultimato – Edição 273 – Seção: Pastorais.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Abre os Meus Olhos, Senhor!


Quero ver-te, Senhor, do outro lado da lama, do outro lado dos montões de lixo, do outro lado da fome, do outro lado das guerras, do outro lado do sofrimento, do outro lado da doença, do outro lado da morte. 

Quero ver-te como tu és e não como os outros dizem que és. 

Quero ver-te na imensidão e na ordem do universo, na mais distante galáxia e na mais próxima estrela. Quero ver-te na cachoeira, na gruta, na floresta, no deserto, na praia, nas alturas dos montes e nas profundezas dos mares, na desembocadura dos rios, nas campinas e nos vales. 

Quero ver-te no amanhecer e no entardecer, ao meio-dia e à meia-noite, no vento, na chuva, nos relâmpagos, no trovão. 

Quero ver-te no botão de rosa, no ipê-amarelo, no girassol, no jardim, no pomar, na horta, nos bosques, na grama, nos pastos e no matagal. 

Quero ver-te no meu corpo, na parte de fora e na parte de dentro, no mais visível e no mais escondido, no mais simples e no mais complexo. Quero ver-te na biologia, no DNA, nas células-tronco, na substância ainda informe, no crescimento, na reprodução e no envelhecimento. 

Quero ver-te nos mistérios da vida, nos mistérios da mente, nos mistérios do amor, nos mistérios da alma, nos mistérios da criação. 

Quero ver-te na vaga lembrança, na saudade, na sede, na fome e no temor que eu tenho de ti, no desassossego de minha alma enquanto ela não repousa em ti. 

Senhor, abre os meus olhos, pois quero ver a lama, os montões de lixo, a fome, as guerras, o sofrimento, a doença e a morte sob outra perspectiva, sob a perspectiva cristã. 

Abre os meus olhos para eu ver o que está acima das nuvens mais baixas (At 1.9). 

Abre os meus olhos para eu ver o Senhor assentado num trono alto e exaltado (Is 6.1). 

Abre os meus olhos para eu ver os céus abertos e o Filho do Homem em pé, à direita de Deus (At 7.56). 

Abre os meus olhos para eu ver o Cordeiro — que parecia ter estado morto — em pé, no centro do trono, pronto para abrir o livro fechado por dentro e por fora e dar prosseguimento à história (Ap 5.6).

Abre os meus olhos para eu ver a destruição, a morte e o enterro da morte (1 Co 15.26). 

Abre os meus olhos para eu ver a transformação dos vivos e a ressurreição dos mortos (1 Co 15.50-58). 

Abre os meus olhos para eu ver novos céus e nova terra, onde habita a tão procurada justiça (2 Pe 3.13; Ap 21.1). 

Abre os meus olhos para eu ver a plenitude da salvação! 

Amém.

Extraído de: Revista Ultimato – Edição 297

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Quem Precisa de Restauração?

Façamos uma viagem no tempo e no espaço. Vamos para a cidade da Babilônia, às margens do rio Eufrates, onde hoje é o Iraque, e para o ano de 516 antes de Cristo. Os judeus deportados para vários pontos do antigo Império Babilônico, que há muito não tocavam suas harpas nem cantavam seus salmos por causa da nostalgia, agora estão alvoroçados e arrumando as malas. A profecia se cumpriu e eles começam a voltar para Israel depois de 70 anos de exílio.
Todos estavam cientes da humilhação pela qual seus pais e avós passaram quando o poderoso Nabucodonozor, rei da Babilônia, cercou Jerusalém, derrubou os seus muros, incendiou o templo, o palácio real, todas as casas e todos os edifícios e levou para o exílio na Babilônia quase toda a população, deixando na cidade apenas os mais pobres do país. Eles sabiam que a fome fora tanta que bebês e crianças desmaiavam nas esquinas de todas as ruas (Lm 2.19) e que, “com as próprias mãos, mulheres bondosas cozinhavam seus próprios filhos, que se tornavam sua comida” (Lm 4.10). Porém, agora, seus olhos deixam de fixar a amargura de ontem para fixar aquilo que podia dar-lhes esperança (Lm 3.21).
 O que gerou neles sólida esperança foram as ternas palavras de Deus contidas no livro de Jeremias. O Senhor promete aos retornados da Babilônia tudo aquilo de que eles mais precisavam: amor, perdão, libertação, cura, pastoreio, reconstrução, renovação da aliança, do ânimo e da alegria. Mais de 40 mil homens e 8 mil servos e servas (Ed 2.64; Ne 7.66) deixaram a Babilônia e foram para Israel. Entre eles havia cantores e cantoras. Com eles foram as harpas e as liras que estavam penduradas nos galhos dos salgueiros às margens dos rios da Babilônia (Sl 137.2, NBV). 
 Entre as comoventes promessas de restauração feitas pelo misericordioso Deus, destacam-se estas (todas estão no livro de Jeremias):
 
Povo de Israel, eu sempre os amei e continuo a mostrar que meu amor por vocês é eterno (31.3).
O meu coração se comove, e eu certamente terei misericórdia de vocês (31.20).
Eu perdoarei os seus pecados e nunca me lembrarei das suas maldades (31.34).
Eu trarei os descendentes de Jacó de volta e terei misericórdia de cada família. Jerusalém será construída de novo, e no palácio morará gente outra vez (30.18).
Eu lhes darei saúde novamente e curarei as suas feridas (30.17).
Eu animarei os cansados e darei comida a todos os que estão fracos de fome (31.25).
Eu mudarei o seu choro em alegria e a sua tristeza em prazer (31.13).
Quando eu os trouxer, eles virão chorando e orando. Eu os levarei à beira das águas correntes, por uma estrada plana onde não tropeçarão (31.9).
Eu construirei de novo a nação. Mais uma vez vocês pegarão os seus tamborins e dançarão de alegria (31.4).
Quando esse tempo chegar, eu farei com o povo de Israel esta aliança: Eu porei a minha lei na mente deles e no coração deles a escreverei (31.33).

A restauração de Israel é um forte lenitivo para a nação, a igreja e a família que precisam de uma igual experiência.


Extraído de: www.ultimato.com.br – Edição: 337