Muitas
pessoas encontram-se vivendo relacionamentos nocivos. Tais relações são aquelas
em que ocorrem sérios desequilíbrios entre as pessoas envolvidas. Geralmente,
de um lado, há alguém aparentemente bastante zeloso e responsável; e, de outro,
um indivíduo que é exatamente o oposto disso. Assim é o pai que resolve todos
os problemas do filho inconsequente; a mulher que suporta as armações do marido
em nome da fidelidade conjugal; o trabalhador que carrega nas costas o fardo
deixado por um colega negligente. Nesse tipo de relacionamentos, geralmente
predomina a falta de limites. E, mais grave ainda é que, com frequência, um dos
lados sempre arca com as consequências de escolhas e atos irresponsáveis de
alguém que lhe é próximo.
A
dificuldade em colocar limites para o outro é um problema para muita gente. As
justificativas podem variar um pouco, mas todas apontam numa mesma direção:
como o outro vai mudar se não o socorrermos e prestarmos ajuda? De que maneira
vai mudar sua atitude e comportamento se deixado sozinho? Com desculpas desse
tipo, muitos se tornam codependentes daqueles que se acostumaram a ter alguém
sempre resolvendo os problemas criados, mesmo manifestando contrariedade.
Relacionamentos assim formam uma espécie de engate, onde um necessita do dano e
outro precisa da recriminação. E assim a dependência e a codependência se alimentam,
às vezes por toda uma vida.
Impossível
deixar de lembrar a parábola do filho pródigo, registrada no evangelho de
Lucas. O contexto da época indica que aquele pai da história contada por Jesus
não queria dividir a herança dos filhos antes da hora – mas acabou cedendo. O
rapaz viveu como bem quis e gastou o dinheiro sem controle nenhum, até ficar
sem nada. Contudo, o pai, ainda que saudoso e angustiado pela ausência do
filho, nada fez para resolver seu problema. Teve estrutura e recursos internos
para aguentar a dor de saber que ele sofreria as consequências das suas
próprias escolhas. E foi justamente a
ausência do socorro paterno que permitiu que aquele jovem experimentasse o
desespero decorrente de sua própria insensatez.
Na
dor da angústia, o rapaz caiu em si e lembrou-se do conforto da casa do pai.
Imediatamente, tomou o caminho de volta, arrependido. Consciente de sua falha,
resolveu até abrir mão da sua condição de filho e fazer parte da criadagem do
pai. A parábola é uma ilustração do amor de Deus para conosco, aquele tipo de
amor maduro, que deixa o outro livre para escolher e aprender com suas próprias
decisões. O mesmo amor que se dispõe a receber de braços abertos o penitente,
desde que haja um verdadeiro arrependimento e disposição para uma nova atitude
e um novo comportamento.
Normalmente,
pessoas que desenvolveram um comportamento nocivo e irresponsável, quando
percebem o fracasso, acusam e culpam os outros por aquilo que é sua
responsabilidade. E, enquanto considerar que a culpa é “do outro”, nenhuma
pessoa se empenhará para promover mudanças em si mesma. Outros usam de
manipulação, ameaçando sonegar afeto e rejeitar os familiares ou parceiros; e
há ainda os que agem com agressividade, e às vezes até violência, intimidando e
forçando aqueles que os cercam a se submeterem mais facilmente.
Só
deixa a codependência quem fortalece a si próprio, preparando-se para enfrentar
acusações e julgamentos injustos. É necessário, também, estar pronto para
suportar um possível distanciamento, e por vezes até a rejeição, diante da
decisão de deixar o outro entregue a si mesmo. E, corajosamente, suportar o mal
estar de estabelecer limites, não cedendo a nenhum tipo de pressão que possa
vir de quem se tornou dependente, sabendo que há uma chance para a mudança de
quem experimenta na própria pele os danos das escolhas erradas.
Certo
pai, cansado da falta de responsabilidade do filho – que tinha um péssimo
rendimento universitário por conta das noitadas e frequentes bebedeiras – e de
fazer tudo o que podia para fazê-lo melhorar, estava a ponto de desistir. Até
que um dia, depois de muito refletir, resolveu liberar o filho para fazer suas
escolhas. E fez o seguinte discurso: “Meu filho, quero estar do seu lado, mas
daqui para frente é você quem vai escolher onde vai desfrutar dessa companhia.
Pode ser na sarjeta, no hospital ou na cadeia; também pode ser num trabalho
onde se sinta realizado, no banco escolar ou aqui em casa. Só que não vou mais
resolver os problemas que você tiver causado a você mesmo. Saiba, contudo, que
estarei sempre disponível e por perto. A escolha é sua.”
Escrito
por: Esther Carrenho
Extraído
de: www.cristianismohoje.com.br
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