Sentei-me à mesa, de frente para
minha amiga Susan, olhando no fundo de seus olhos repletos de profunda tristeza
e fiquei pensando em como eu poderia ajudá-la. Sua situação era algo fora do
meu alcance: ela havia sofrido inesperadas críticas por parte de antigos amigos
que frequentavam a congregação que seu marido pastoreava. Eu não tinha palavras
para consertar os erros dos outros e nem para diminuir a dor no coração dela.
“Sinto muito”, tentei dizer simplesmente. Susan me olhou e pediu que eu orasse
por ela. Sem poder oferecer nada mais, prometi me unir a ela no seu projeto de
tornar as segundas-feiras o dia de jejum e oração por ela e sua igreja. Mas,
após sair do nosso encontro e voltar à minha rotina maluca, será que eu
realmente poderia manter minha promessa?
Entrando no silêncio de seu interior… - Muitas
vezes, quando encontro alguém com uma necessidade iminente, ofereço a rápida
frase “Você está nas minhas orações” sem mesmo pensar se vou manter minha
palavra. Orar realmente consistiria em falar com Deus sobre a situação durante
o meu dia ocupado, sem que seja apenas cumprir mais um item de minha lista de
tarefas. Mas a responsabilidade de orar por outras pessoas merece séria
atenção, como indicam os inúmeros exemplos bíblicos.
Moisés falava com Deus regularmente da parte dos
israelitas, por causa de seu pecado (Números 21:7). Ester pediu que seu povo
jejuasse três dias antes que ela enfrentasse o rei (Ester 4:15-16). Paulo pediu
aos membros da igreja primitiva que orassem por seu ministério (Efésios
6:19-20). E Jesus passou a maior parte de seu longo tempo de oração
intercedendo apaixonadamente por nós (João 17).
Intercessão vem das palavras latinas inter
(entre) e cedere (ir) – ou seja, uma intervenção ou mediação entre duas partes
com o objetivo de reconciliar as diferenças. A chave para a intervenção
espiritual é a oração. No livro Tudo para ele, Oswald Chambers chama a oração
intercessória de “o ministério do interior” e “o real trabalho de sua vida como
alma que já foi salva”. Portanto, precisamos ir além de nossas boas intenções e
fazer com que a intercessão seja parte vital de nossa vida na comunidade
cristã.
Levantando-se na brecha - Deus nos convida a
participar de seu cuidado com seus filhos, mas temos de nos aproximar dele por
parte dos outros. Durante a vida do profeta Ezequiel, Deus ansiava por mostrar
misericórdia a seu povo através de um intercessor: “Procurei entre eles um
homem que erguesse um muro e se pusesse na brecha diante de mim e em favor
desta terra, para que eu não a destruísse...” (Ezequiel 22:30). Minha amiga
descreve este tipo de oração na brecha como “estender a mão acolhedora para um
amigo machucado enquanto seguro minha outra mão na mão firme de Deus. Você faz
uma conexão vital”.
Apesar de minhas orações alcançarem Deus, sem
levar em conta seu tamanho ou eloqüência (Mateus 7:7-12; Apocalipse 5:8), elas
precisam ir além de simples conversas ou discursos de minha parte, para que
sejam conexões a tantos que precisam.
Há algumas semanas, uma amiga perdeu a mãe.
Uma mulher grávida que freqüenta meu grupo de estudo bíblico foi abandonada
pelo marido. E na semana passada, o marido de outra amiga apontou uma arma para
ela. Para estas necessidades, minhas orações parecem ser apenas comparáveis a
uma situação onde a casa de meus vizinhos está em chamas e chego com uma
garrafa de água para ajudar. Não dou o devido valor à necessidade por não
responder ao real significado do problema.
Deus criou a intercessão primeiramente para
que pudéssemos responder ao grande problema com uma solução suficiente. Por
reconhecer que as chamas de nossa natureza pecadora nos consumiam, ele enviou
Jesus, Deus encarnado. Cristo nos ofereceu uma conexão vital: uma de suas mãos
estendida a nós e a outra segurando firmemente nossa salvação. Ele não nos deu
uma garrafa de água: ele abriu os portais de rios de água viva. E sua
intercessão por nós continua: “… Cristo Jesus que morreu, e mais; que
ressuscitou e está a direita de Deus, e também intercede por nós” (Romanos
8:34).
Posicionados com um objetivo - Sei que as
orações intercessórias de Cristo são eficientes, mas me questiono se as minhas
farão alguma diferença. A Bíblia está repleta de exemplos de situações assim e
de orações intercessórias transformadoras. Os amigos de Jó obtiveram perdão de
Deus depois que Jó orou por eles (Jó 42:8-10). Lázaro ressuscitou da morte
quando Jesus pediu aos céus (João 11:41-42). E as portas da prisão se abriram
depois que Paulo e Silas louvaram e oraram (Atos 16:25-26).
Ainda assim, todos nós já
sentimos muitas vezes que nossas orações foram em vão. Nosso ente querido
faleceu, o conflito nunca foi resolvido, a enfermidade permaneceu. Clamei a
Deus repetidamente para restaurar a saúde de minha amiga Kate que vive com câncer
no pâncreas há quatro anos. Apesar de ter se sentido quase “normal” nos últimos
meses, esta semana me telefonou para dizer que os médicos lhe contaram que seu
oásis de saúde está secando. Enquanto chorava com ela, muitas questões internas
surgiram: Será que preciso orar com mais força? Será que Deus está ouvindo?
Qual o objetivo das minhas orações?
A tortuosa jornada da enfermidade
era familiar para C.S. Lewis, já que sua esposa Joy sofreu com um câncer,
conforme relatado no filme Shadowlands (Terra das sombras), baseado na relação
do casal. Em resposta a este casamento de alegria e dor, a personagem de Lewis
comenta: “Oro porque não posso evitar: a necessidade flui em mim. Não muda
Deus, mas me transforma.”
Talvez o objetivo da oração seja mais um posicionamento do que uma
petição. A oração me move, deixo de ser o centro para que Deus e os outros
sejam o centro. Tenho orado diariamente por Kate, e passei a enxergar minhas
prioridades e meus conflitos relacionais através das lentes de seu câncer.
Agora sou grata por estar fisicamente capacitada a ter uma agenda de
compromissos em vez de me sentir sufocada com o estresse diário. Procuro refletir a Graça de Deus aos
desconhecidos e sua paciência em relação a meus amados. A intercessão me
libertou de ficar absorvida em mim mesma (Gálatas 6:2; Mateus 5:44-45), e me
libertou de minha tristeza para que eu pudesse me engajar no ministério.
Faça parte desta experiência - Seguir o
exemplo do ministério de Jesus tem um preço. A intercessão que ele fez em nosso
favor, posicionando-se entre nós e nossas necessidades, foi algo que consumiu
sua própria vida. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá sua vida pelos
seus amigos”, proclamou Jesus (João 15:13). E, apesar de nossa oração intercessória
não ser comparada à oração dele, ela requer sacrifício, que neguemos a nós
mesmos, que mudemos nossos hábitos e doemos nosso tempo para levar diante de
Deus as necessidades dos outros.
Quando optei por separar as segundas-feiras
para orar e jejuar pelas questões de Susan e por sua igreja, não tinha idéia do
que estava por vir. Gosto de fazer pelo menos três refeições ao dia. Mas,
quando saí de minha zona de conforto, mudei meus compromissos das
segundas-feiras e aceitei o desconforto da fome ao me ajoelhar diante de Deus
em oração, me descobri inserida no meio da crise de Susan, chorando suas
perdas, vivendo sua sensação de impotência, sentindo a dor de suas feridas
profundas de decepção e traição.
No entanto, este envolvimento com a vida de
Susan através da intercessão, apesar de sacrificial, trouxe também um bônus:
tornei-me intimamente conectada com Deus. Enquanto estendia uma de minhas mãos
para Susan, estendia a outra mão para que Deus nos fortalecesse. E testemunhei
a atuação de Deus no meio da crise: vi sua preocupação, senti sua presença e
acreditei em seus propósitos.
Também descobri a motivação para a questão
sacrificial, arriscada e muitas vezes exaustiva da intercessão: o amor de Deus
(Romanos 8:34, 9:1). Philip Yancey, em seu livro Oração: ela faz alguma
diferença?, explica o efeito do amor: “Quando oro por outra pessoa, estou
orando para que Deus abra meus olhos para que eu veja aquela pessoa como Deus a
vê e então entrar no canal amoroso que Deus já direciona para aquela pessoa.
Algo acontece quando oro por outros desta maneira. Levá-los à presença de Deus
transforma minhas atitudes em relação a eles e afeta profundamente nosso
relacionamento.”
Aprender a amar uns aos outros da maneira que
Deus nos ama nos leva a fazer coisas que nunca havíamos considerado. Quando não
temos habilidade, nosso coração se enche de bondade. Somos cheios de compaixão
quando gostaríamos de ficar omissos. Somos libertos de nossas agendas lotadas
quando percebemos que um amigo, ou até um inimigo, precisa de nossa
intercessão. E se tememos não ter amor suficiente para esta tarefa, podemos
clamar ao Autor do amor para derramar sobre nós amor direto de seu coração para
o nosso, conforme nos abrimos para este apaixonante ministério de nos
levantarmos em oração na brecha.
Michele Cushatt é professora
bíblica, escritora e conferencista. Mora com sua família no Colorado, Estados
Unidos.
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