Quando as universidades de
Oxford, na Inglaterra, de Paris, na França e de Bologna, na Itália, foram
fundadas no século 12, a teologia era tida como a rainha das sete ciências ali
estudadas.
A relevância de Deus foi perdendo
terreno progressivamente. A começar com o advento do Iluminismo e seus
expoentes, como Voltaire, Jean-Jacques Rousseau e Immanuel Kant, todos do
século 18. Eles não chegaram a negar a existência de Deus, mas abraçaram o
deísmo – “a crença num Deus que, como um grande relojoeiro, criou um universo
mecânico, deu-lhe corda e depois o deixou entregue à própria sorte, permitindo
que trabalhasse de acordo com as leis naturais sem jamais nele intervir” (Tim
Dowley). Nessa chamada “Era da Razão”, os intelectuais europeus estabeleceram a
razão como árbitro derradeiro de todos os assuntos, desbancando a Bíblia e a
doutrina cristã. A fé se enfraquecia e a razão se fortalecia. Mais tarde, no
século seguinte, William Gladstone, várias vezes primeiro ministro inglês,
diria que essa perda da fé religiosa era “a mais indizível calamidade que
poderia abater-se sobre um homem ou sobre a nação”. Eugene Peterson, autor da
mais recente paráfrase da Bíblia, afirma categoricamente: “Se tirarmos Deus de
cena, substituindo-o por nosso próprio autorretrato cruamente delineado,
trocaremos a aspiração em ambição e acabaremos nos tornando arrogantes”. Ele
diz ainda que “ser cristão significa aceitar Deus como nosso Criador e
Redentor”, pois Deus “é a realidade central de toda a nossa existência”.
A verdade é que, mais cedo ou
mais tarde, tudo vai desmoronar ao redor de quem tira Deus de cena. E para
sabermos bem o que é desmoronamento – queda dramática de algo construído –,
basta que nos lembremos do desmoronamento da imponente estátua de
Nabucodonosor. Ela foi derrubada, despedaçada e tornada pó – pó que o vento
levou sem deixar nenhum sinal (Dn 2.31-35). Outro exemplo bem mais dramático é
o desmoronamento dos dois edifícios mais altos do
“World Trade Center”, em Nova York, ambos com 110 andares, que caíram em menos
de 100 minutos, matando quase 3 mil pessoas (entre elas 658 funcionários de uma
única empresa).
Quando Deus é colocado fora de
cena:
• Perde-se o rumo e perguntas
cruciais – quem sou? De onde vim? para onde vou? – ficam sem resposta.
• A vida termina com a morte
somatopsíquica e não se pode ter a menor esperança para o além-túmulo.
• Jogam-se fora todas as
esperanças cristãs até então acumuladas e guardadas, como a ressurreição dos
mortos, a morte da morte, a extinção do pecado, o reino de justiça e paz pelo
qual sempre ansiamos, a plenitude da glória de Deus e o advento de novos céus e
nova terra.
• Tudo aquilo que sempre teve
valor e era tratado com respeito é desprezado: a Bíblia como a Palavra de Deus,
o batismo, a Santa Ceia, o Natal, a Semana da Paixão, a confissão, o perdão de
pecados.
• Perde-se o paradigma de
comportamento baseado no Decálogo e nas Escrituras, que prevê o relacionamento
da criatura com o Criador, com a criatura e com a criação.
Se neste 2013, que desponta com o
nascer do sol do dia primeiro de janeiro, continuarmos a colocar Deus fora de
cena, estaremos dando mais alguns passos em direção ao inevitável
desmoronamento de tudo que nos cerca. Só então reconheceremos que tudo aquilo
que inventamos para compensar a ausência de Deus era como cisternas tão furadas
que pareciam verdadeiras peneiras (Jr. 2.13).
Quem sabe, tomaremos a decisão de
viver 2013 sem tirar Deus de cena!
Artigo publicado na seção “Abertura” da revista Ultimato nº 340 (janeiro-fevereiro/2013).
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