Deus é o
sujeito dos verbos abrir e fechar, construir e destruir, ajuntar e espalhar,
enaltecer e humilhar, aproximar-se e distanciar-se, perdoar e acusar, salvar e
condenar, enxugar e produzir lágrimas, derramar graça e derramar ira, cuidar e
abandonar, adoecer e curar, trazer e recolher o fôlego de vida, dar e reter, e
muitos outros.
Por
ser o doador da vida, o criador do céu e da terra, o Senhor dos senhores, o Rei
dos reis, o Deus dos deuses, o Soberano Senhor -- Deus faz o que quer, com quem
quer, como quer, onde quer e quando quer. Ele é absolutamente livre,
absolutamente sábio, absolutamente justo e absolutamente poderoso. Um deus sem
essas prerrogativas não seria Deus.
Nem
sempre o que Deus faz parece certo, parece justo, parece bom. Porém os cristãos
mais próximos dele e mais cheios dele aprendem a respeitá-lo, a não discutir com
ele, a não brigar com ele, a não abandoná-lo por causa de suas ações
aparentemente estranhas e incompreensíveis. Eles aprendem a dar tempo ao tempo
e esperar o desenrolar de tudo. Assim como o leitor de um romance não se
assusta com a complicação e confusão do enredo, na certeza de que no final o
autor vai deixar tudo esclarecido, os cristãos confessam que não têm sabedoria
suficiente para acompanhar Deus, porque ele é muito maior, e confiam nele. Um
bom número de cristãos acredita piamente, como Paulo, que “cada detalhe em
nossa vida de amor a Deus é transformado em algo muito bom” (Rm 8.23). Não é à
toa que o primeiro livro da Bíblia começa com a criação dos céus e da terra (Gn
1.1) e o último termina com a criação do novo céu e nova terra (Ap 21.1).
O Salmo 107 e o capítulo 2 de Lamentações de Jeremias, por exemplo, chamam atenção para esse choque de verbos. No primeiro, Deus liberta o seu povo, tirando-o das mãos de seus inimigos, e faz com que ele volte do exílio para a sua terra; dá água aos que têm sede e coisas boas para comer aos que estão com fome; livra-o de suas muitas aflições, tira-o da escuridão e quebra em pedaços as correntes que o prendiam; derruba portões de bronze e despedaça barras de ferro; cura-o e salva-o da morte; estando ele em perigo no alto mar, Deus acalma a tempestade e deixa quietas as ondas bravias; e realiza para ele coisas maravilhosas. No entanto, no outro texto, o mesmo Deus trata o mesmo povo de modo muito diferente. Deus joga por terra, humilhados, o reino de Judá e suas autoridades; acaba de vez com o poder de Israel e, quando os inimigos dele se aproximam, ele não o ajuda e ainda se joga contra o povo; aponta as suas flechas contra os judeus e mata as pessoas mais estimadas entre eles; derruba as fortalezas e arrasa os palácios de Jerusalém; abandona o templo e deixa que os inimigos derrubem suas paredes.
O Salmo 107 e o capítulo 2 de Lamentações de Jeremias, por exemplo, chamam atenção para esse choque de verbos. No primeiro, Deus liberta o seu povo, tirando-o das mãos de seus inimigos, e faz com que ele volte do exílio para a sua terra; dá água aos que têm sede e coisas boas para comer aos que estão com fome; livra-o de suas muitas aflições, tira-o da escuridão e quebra em pedaços as correntes que o prendiam; derruba portões de bronze e despedaça barras de ferro; cura-o e salva-o da morte; estando ele em perigo no alto mar, Deus acalma a tempestade e deixa quietas as ondas bravias; e realiza para ele coisas maravilhosas. No entanto, no outro texto, o mesmo Deus trata o mesmo povo de modo muito diferente. Deus joga por terra, humilhados, o reino de Judá e suas autoridades; acaba de vez com o poder de Israel e, quando os inimigos dele se aproximam, ele não o ajuda e ainda se joga contra o povo; aponta as suas flechas contra os judeus e mata as pessoas mais estimadas entre eles; derruba as fortalezas e arrasa os palácios de Jerusalém; abandona o templo e deixa que os inimigos derrubem suas paredes.
No
contexto de ambas as passagens (o Salmo 107 e o capítulo 2 de Lamentações de
Jeremias) está a explicação para o fenômeno em pauta. O Deus que
abençoa e o Deus que retira a sua bênção é o mesmo. Basta recordar a afirmação
de Tiago: “[No Pai das luzes] não pode existir variação ou sombra de mudança”
(Tg 1.17). Para esclarecer e enfatizar mais, vale a pena consultar outras
versões. Na Bíblia do Peregrino: Deus “não está sujeito a fases nem períodos
obscuros”; na Edição Pastoral Catequética: Em Deus “não há mudança nem mesmo
aparência de instabilidade”; na Tradução Ecumênica da Bíblia: Em Deus “não
existe nem hesitação nem sombra de dúvida ou movimento”; em A Mensagem : “Em Deus
existe plena firmeza, nele não existe instabilidade”; e na Nova Versão
Internacional: Deus “não muda como sombras inconstantes”.
Deus
está sempre em ação, tanto para descomplicar como para complicar. Precisamos
ficar atentos ao amor bondoso e à terrível severidade que coexistem em Deus:
misericórdia zero em algumas situações e bondade total em outras (Rm 11.22)!
Extraído de: Revista Ultimato – Edição 338
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