Vocês não sabem e que espécie de
espírito vocês são, pois o Filho do homem não veio destruir a vida dos homens,
mas para salvá-los. (Lc 9.55)
Jesus disse isso porque dois de seus
discípulos, diante da recusa dos samaritanos em permitir que Jesus pernoitasse
em sua aldeia, falaram que, se Jesus quisesse, eles pediriam para que fogo do
céu descesse e consumisse aquela comunidade. (Lc 9.51- 54)
Jesus comunicou-lhes que tal desejo não se
coadunava com o espírito de que agora eram. E de que espírito são os alunos de
Cristo? Somos portadores de um espírito desarmado, temos uma nova índole, que
não contempla nenhum ato de violência, sob qualquer forma, à pessoa humana.
O protagonista principal do filme
estadunidense “Ben Hur”, de 1959, baseado no romance épico, homônimo, de Lew
Wallace, ambientado no tempo de Jesus, numa das cenas, diz que as palavras que
ouvira de Jesus tiraram a espada de suas mãos.
Essas palavras do personagem encerram o cerne
da questão: Jesus Cristo desarma a gente. É uma ação profunda, que nos leva a
compreender que, a começar da motivação e desejo, passando pelos sentimentos,
pelos pensamentos, pelas palavras e, finalmente, pelos atos, nada justifica
abrigar ou praticar qualquer agressão à pessoa humana.
Abrigar ou praticar a violência é roubar do
outro o valor a que faz jus. Na fé cristã somos estimulados a, sempre,
reconhecer e emprestar valor ao outro.
Na fé cristã o marido, como sacerdote do lar,
sacrifica-se pela esposa para que ela se realize como pessoa. A esposa, por sua
vez, respeita profundamente ao seu marido, conferindo-lhe a liderança do lar, e
sustentando essa liderança diante de todos. É nessa disposição que fraquezas
são compensadas e acordos celebrados.
Na fé cristã os filhos simplesmente obedecem
aos pais, e os pais simplesmente são justos com os filhos.
Na fé cristã todos os relacionamentos são
pautados pelo amor, que, fruto do Espírito, que em nós habita, busca, através
do perdão, que resolve os problemas emocionais, e da palavra branda,
estabelecer a paz e promover a justiça, sem jamais considerar a possibilidade
do ataque à pessoa.
Nada é mais estranho ao espírito cristão que o
desrespeito, a virulência verbal, o ataque moral, e a falácia contra o homem.
Há quem busque na purificação do templo,
episódio em que Jesus expulsa os cambistas, o contraponto a esse ensino, mas,
Mc 11.11 diz que quando Jesus entrou em Jerusalém, foi ao templo, observou tudo
e foi para Betânia, e, no dia seguinte, conscientemente, sem lhes dirigir
palavra ou agredi-los, expulsou aos cambistas, ao derrubar o patrimônio
espúrio, pondo fim ao comércio abusivo.
Jesus cumpriu a Bíblia, que não reconhece ao
ser humano o direito de amealhar patrimônio por meio da injustiça, pelo
contrário, considera tal acúmulo como violência contra a humanidade (Is 5.8), e
foi isso que Jesus pôs por terra, e sobre isso a todos ensinou (Mc 11.17),
pois, para terem aquele comércio, usavam o átrio dos gentios, lhes impedindo,
assim, de cultuarem ao Eterno.
Foi essa a lógica que Jesus usou quando
permitiu que os demônios, que escravizavam ao homem de Gadara, fossem para
porcos, cuja criação era proibida pela lei de Deus. Escolheu salvar o homem em
detrimento do patrimônio ilícito.
A índole, o espírito cristão, é forte nos seus
valores e sólido em seus compromissos, mas, sempre respeitoso. O cristão sabe
de que espírito é.
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Ariovaldo Ramos é escritor,
articulista e conferencista sobre a missão da igreja. Foi presidente da AEVB
(Associação Evangélica Brasileira), missionário da SEPAL e presidente da Visão
Mundial no Brasil. Atualmente é pastor na Comunidade Cristã Reformada, em São
Paulo (SP).
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