Há uma grande riqueza nas
palavras proferidas pelo chefe dos copeiros de Faraó, dois anos depois de
voltar ao seu emprego no palácio: “Chegou a hora de confessar um erro que
cometi” (Gn 41.9, NTLH). O erro ao qual ele se refere é muito mais do que um
mero erro. É uma ingratidão sem medida, um pecado grave, cometido contra o já
sofrido José, quando estava preso com ele na fortaleza onde eram colocados os
presos do rei.
Certa manhã, ao observar que os
semblantes do copeiro-mor e do padeiro-mor apresentavam sinais de tristeza,
José os interpelou: “Por que vocês estão com essa cara tão triste hoje?” (Gn
40.7, NTLH). A prostração era devido aos estranhos pesadelos que eles haviam
tido durante a noite. José mostrou ao copeiro-mor que, no caso dele, o sonho
não era nenhum pesadelo, mas a revelação de que ele seria solto e reconduzido à
posição anterior, o que aconteceu três dias depois (Gn 40.12-13).
José, que estava preso por causa
da calúnia da mulher de Potifar, solicitou ao funcionário do palácio anistiado
o mesmo que o ladrão da cruz pediu a Jesus: “Quando você estiver muito bem lá
lembre de mim e por favor tenha a bondade de falar a meu respeito com o rei,
ajudando-me assim a sair desta cadeia” (Gn 40.14, NTLH). Porém, o chefe dos
copeiros se esqueceu de José completamente, demonstrando o alto grau de seu
egocentrismo. O filho de Jacó, um rapaz de 28 anos, teve de suportar mais dois
anos de cadeia por culpa desse infeliz pecado de omissão. Quando surgiu a
necessidade de alguém interpretar os sonhos das vacas gordas e magras de Faraó,
o então copeiro-mor se lembrou de José e disse as tais palavras: “Chegou a hora
de confessar um erro que cometi”.
No caso do copeiro-mor, foram
dois anos de pecado não reconhecido, não confessado e não reparado. No caso dos
irmãos de José, o período foi no mínimo dez vezes mais longo. Quando José tinha
pouco mais de 17 anos, seus irmãos o venderam a uma caravana de ismaelitas, que
por sua vez o vendeu a Potifar, no Egito, e ainda contaram ao pai a falsa
informação de que o filho de sua velhice tinha sido dilacerado por um animal
selvagem (Gn 37.12-36). Vinte e poucos anos depois, quando José já era
governador do Egito (desde os 30) e quando já haviam se passado os sete anos de
vacas gordas, os irmãos de José disseram uns aos outros: “Estamos sofrendo por
causa daquilo que fizemos com o nosso irmão. Nós vimos a sua aflição quando
pedia que tivéssemos pena dele, porém não nos importamos. Por isso agora é a
nossa vez de ficarmos aflitos” (Gn 42.21, NTLH).
A confissão pública mesmo só ocorreu
por ocasião da segunda ida ao Egito para comprar cereais. Em nome dos irmãos,
Judá declarou ao governador ainda sem saber que ele era José: “Deus descobriu o
nosso pecado” (Gn 44.16, NTLH). O que o confessando queria dizer não era que,
naquele episódio, Deus havia tomado conhecimento dos pecados deles, mas que, no
meio daquelas circunstâncias, Deus estava descobrindo diante de todos o pecado
até então cuidadosamente escondido.
Mais cedo ou mais tarde, todo
mundo, um por um, será obrigado, se não pela consciência, por ser atropelado
pela história, a repetir a confissão do copeiro-mor: “Chegou a hora de
confessar o meu erro!”.
A necessidade de admitir e
confessar o pecado é tão grande que um dos ministérios do Espírito é convencer
o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8).
Extraído da
Seção: Pastorais – Edição 323 – Revista Ultimato.
www.ultimato.com.br
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