No capítulo 7 de Romanos, Paulo
exerce os papéis de psicanalista e paciente ao mesmo tempo. Diante de certas
dificuldades éticas e pessoais, profundas e continuadas, quase desesperadoras,
Paulo assenta-se no divã e tenta conhecer-se a si próprio. Ele quer saber por
que é tão contraditório, por que oscila tanto entre o bem e o mal, por que tem
mais facilidade na desobediência do que na obediência. Nesse autoexame, o
apóstolo descobre, em sua própria história, os estragos provocados pela queda
do homem. Ele sabe que o problema não é só dele, mas de todo ser humano.
Todavia, a princípio, Paulo fala de si mesmo e não dos outros. As conclusões a
que chega revelam um diagnóstico sombrio da natureza humana:
- Sou um ser “humano e fraco”, pois
fui vendido ao pecado (v. 14).
- Sou uma pessoa “contraditória”,
pois não faço o que gostaria de fazer, mas o que odeio (v. 15).
- Sou um “inveterado pecador”, pois
o mal e não o bem vive em mim (v. 17-18).
- Sou um “fracassado”, pois não
consigo fazer o bem, mesmo que o queira (v. 18).
- Sou uma pessoa “dividida”, pois
sofro a influência da lei de Deus e da lei do pecado (v. 23).
- Sou um “infeliz”, pois a lei do
pecado tem prevalecido e me feito seu prisioneiro
(v. 24).
- Sou um “necessitado”, pois
preciso de alguém que me liberte da tara pecaminosa que habita em mim (v. 24).
Essa autoanálise não é nem
pessimista nem fatalista, muito menos derrotista. Não é de forma alguma um
atestado de óbito ou o fim do caminho. Em vez disso, ela é uma ponte que leva o
apóstolo para outro lugar, outra situação, outra história. Com o diagnóstico em
mãos, Paulo se dá por vencido, grita, clama por socorro e se pergunta: “Quem é
que me livrará da minha escravidão a essa mortífera natureza inferior?” (v. 24,
BV). Ele está simplesmente repetindo a oração que os judeus faziam quando
subiam as montanhas em direção a Jerusalém: “Levanto os meus olhos para os
montes e pergunto: De onde me vem o socorro?” (Sl 121.1). A autoanálise conduz
o apóstolo ao Salvador e ele termina o famoso capítulo não com o drama do pecado,
mas com ações de graça: “Deus seja louvado, pois ele fará isso [livrar-me da
lei do pecado] por meio do nosso Senhor Jesus Cristo!” (v. 25, NTLH).
Se Romanos 7 retrata a
capitulação, o capítulo seguinte retrata a vitória: “Se Deus é por nós, quem será
contra nós?” (Rm 8.31). Entre um e outro está o Senhor Jesus Cristo! E para
sair do primeiro em direção ao segundo, temos o recurso do pedido honesto de
socorro a quem de direito!
Revista Ultimato
– Edição 317
Extraído do
site: www.ultimato.com.br
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