Certa vez, ouvi um pastor dizer:
“Um dos pontos fortes de nossa comunidade é o planejamento das mensagens e
liturgias com certa antecedência. Isso nos proporciona a oportunidade de fazer
a obra de Deus com a excelência que ele merece”. Outro líder retrucou: “Bem,
mas precisamos tomar cuidado com o planejamento excessivo que nos leva a não
depender do Espírito Santo e a confiar mais em nossas próprias ações do que na
obra de Deus.” Diante disso, a dúvida se instalou: Devemos ou não planejar?
Devemos ou não assumir a responsabilidade pela ação? Ou devemos, simplesmente,
orar e confiar que Deus, do seu jeito e a seu tempo, vai fazer a obra?
De outra feita, um casal de
amigos me disse que estavam orando a Deus e esperando sua resposta acerca de
suas próximas férias. Eles queriam muito viajar, tinham recursos e tempo para
isso, e sabiam que o momento era oportuno. “No entanto”, disseram, “queremos
ouvir a Deus sobre esta situação”. Diante da resposta, confesso que fui tomado
por certo sentimento de culpa. Será que tive a mesma atitude nas últimas vezes
em que tive que tomar decisões como mudar de casa, comprar um carro, ir ou não
ao cinema no sábado a noite ou fazer uma viagem de férias? Ou será que, ao
agir, deixei de ouvir a voz do Senhor?
Até que ponto a oração nos isenta
do planejamento e da ação? Por outro lado, a partir de quando esse planejamento
e essa ação se caracterizam como uma afronta à oração e, consequentemente, a
dependência ao Espírito Santo? Com certeza, nesta reflexão, os extremismos
devem ser evitados. Existem aqueles que se perdem numa passividade
contemplativa em nome da dependência de Deus, assim como também há os que
confundem a necessidade de controle total sobre todos os processos com o desejo
de servir a Deus com excelência. Mas como fugir dos extremos? Existiria um
ponto de equilíbrio nesta questão?
Para mim, as pessoas que insistem
em estabelecer esta dicotomia entre oração e ação insistem numa falácia e
aqueles que defendem o equilíbrio estão equivocados. Precisamos, sim, aprender
a orar avaliando e considerando as situações, da mesma forma como precisamos
aprender a planejar e agir, orando. Os dois movimentos não são contraditórios,
mas complementares. Logo, a resposta para a questão é a integração entre oração
e ação em nossas vidas.
Prova disso podemos encontrar na
vida e missão de Neemias. Nenhum outro personagem na Bíblia aparece mais vezes
orando do que ele. Ao mesmo tempo, pouquíssimos personagens bíblicos demonstram
ser tão elaborados em seus planos e determinados em suas ações como ele.
Neemias é um exemplo perfeito de como devemos e podemos integrar a oração à
ação, bem como a ação à oração. Desde o primeiro momento em que Neemias recebe
informações sobre a cidade de Jerusalém, ele passa a orar, conforme o primeiro
capítulo de seu livro. Quatro meses depois, na presença do rei, quando
questionado sobre a preocupação que transparecia em seu semblante, Neemias ora
e apresenta um detalhado plano de ação ao rei. O que Neemias havia feito
durante os quatro meses anteriores? Ele havia orado, avaliando e considerando
possibilidades.
Por outro lado, quando Neemias já
se encontra no meio da execução do plano de reconstrução dos muros, ele se
depara com adversidades. Mais uma vez, busca alternativas que conciliavam a
oração com a ação (Neemias 4.9). Diante das escolhas a serem feitas e das
necessidades que apareciam, Neemias procura sempre considerar as possibilidades
e tomar as melhores decisões – sem, no entanto, deixar de reconhecer sua
dependência de Deus (Neemias 4.13-14). Sendo assim, a confiança no cuidado e no
amor do Senhor por nós não deve nos isentar da responsabilidade de
considerarmos os caminhos que temos diante de nossos olhos, avaliarmos com
critério as possibilidades de cada um deles e tomarmos a decisão que nos parece
mais coerente com um coração disposto a viver nos valores de Deus e com uma
vida desejosa de honrá-lo a todo tempo.
A certeza de que o Senhor está no
controle de todas as coisas e de que nossa capacitação vem dele não pode nos
conduzir a uma atitude de passividade para com as decisões e ações em nossas
vidas. Parte da capacitação que Deus nos concede está relacionada à percepção
da realidade que nos cerca, à avaliação das possibilidades vinculadas aos nosso
valores e princípios e à elaboração de ações planejadas a partir de tal
capacidade.
Escrito por: Ricardo Agreste
Extraído de: http://cristianismohoje.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário