Vivemos um tempo em que é muito
fácil perder o equilíbrio emocional e espiritual. Uma dificuldade que muitos
cristãos enfrentam é aceitar a realidade e responder a ela apropriadamente.
Nossas reações emocionais emergem da forma como pensamos sobre a vida e os
acontecimentos. Não são as realidades externas que nos perturbam, mas o
julgamento que fazemos sobre elas. Sobretudo, a forma como cremos que Deus
participa delas.
O apóstolo Paulo, em carta aos
cristãos que viviam na capital do Império Romano, faz quatro perguntas
retóricas que nos ajudam a construir uma estrutura espiritual capaz de produzir
em nós sentimentos e atitudes verdadeiros diante das diferentes situações e
experiências.
Primeira pergunta: “Se Deus é por
nós, quem será contra nós?”. Sabemos que existem muitas coisas “contra nós”.
Existem acidentes, doenças, mortes. Existem crises econômicas e políticas.
Existem fofocas, mentiras, calúnias, traições. Paulo não está afirmando que
nada disso vai acontecer conosco. Acontecem com todos os santos. Podemos sofrer
as frustrações de um divórcio, a angústia da demissão ou a desilusão em relação
aos amigos. Tudo isto atua “contra nós”. Porém, a pergunta de Paulo é: “Se Deus
é por nós, quem será contra nós?”.
Como reagimos emocionalmente a
estas situações? Fugindo? Vitimando-nos? Responsabilizando os outros? Duvidando
de Deus? A verdade que compõe a estrutura espiritual de Paulo é que Deus é por
nós. O Deus Criador de todas as coisas, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, é
por nós. Paulo estava seguro desta verdade, e tal convicção moldava seu
pensamento e, consequentemente, seus sentimentos e emoções.
Segunda pergunta: “Aquele que não
poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não
nos dará graciosamente com ele todas as coisas?”. A ansiedade é um dos grandes
males do nosso tempo. Porém, quando achamos que estamos perdendo alguma coisa,
Paulo nos convida a perguntar: Se na cruz Deus nos deu o melhor, por que o medo
de perder algo? Confiamos que ele nos dará tudo de que precisamos? A verdade
que sustenta a vida de Paulo é: o Deus que nos deu o que tinha de mais precioso
não deixará de nos dar nada que nos seja necessário.
Como reagimos emocionalmente ao
sentimento de que algo está faltando? Davi responde: “O Senhor é meu pastor,
nada me faltará”. Como Paulo, ele confiava no Deus que ama e supre cada uma de
nossas necessidades.
Terceira pergunta: “Quem
intentará acusação contra os eleitos de Deus?”. Somos constantemente afligidos
por sentimentos de culpa. Para Paulo, se Cristo nos justifica, quem pode nos
condenar? O veredicto que ele apresenta não é baseado no que temos feito, mas
no que Cristo fez. As pessoas podem nos acusar, cobrar ou condenar, mas isto
pode mudar alguma coisa? O único que de fato pode nos acusar é o mesmo que nos
justifica.
O nosso maior problema não são os
outros, somos nós. Uma grande liberdade emocional nasce do simples fato de nos
fazer esta pergunta: “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus?”.
Quarta pergunta: “Quem nos
separará do amor de Cristo?”. Aqui Paulo fala de situações que podem nos fazer
sentir que Deus se esqueceu de nós. Tribulação, angústia, perseguição, fome,
nudez, perigo, espada -- situações que ele viveu. São experiências com grande
potencial de nos fazer sentir abandonados. De onde vêm estes sentimentos?
Destes eventos ou do que pensamos sobre eles? Podem estas circunstâncias nos
separar do amor de Cristo? Para Paulo, não.
Nossas respostas aos fatos não
são determinadas por eles, mas pelo julgamento que fazemos deles. Se julgarmos
que uma provação tem o poder de nos afastar do amor de Deus, certamente nos
afastará. Se julgarmos que alguém pode levantar uma acusação contra nós e nos
fazer sentir culpados, certamente isto acontecerá. Fazer tais perguntas não
muda as circunstâncias, mas muda a forma como as vemos ou julgamos. Ao
fazê-las, adquirimos uma perspectiva correta e amadurecemos nossos sentimentos.
Ricardo Barbosa de Sousa é
pastor da Igreja presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de
Estudos, em Brasília. É autor de “Janelas para a Vida” e “O Caminho do
Coração”.
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