A largada já aconteceu, mas a
premiação ainda não. Um bom espaço já foi percorrido, mas a caminhada ainda não
terminou. Talvez estejamos no meio do caminho. Ou, quem sabe, mais próximos do
ponto de chegada do que do ponto de partida. O certo é que ninguém pode parar
onde está. Já viemos à luz, já nascemos, mas não podemos continuar crianças em
Cristo, tomando leite e sopinhas, usando fraldas, andando no colo da mãe ou de
carrinho de bebê. Precisamos passar do alimento líquido para o alimento sólido,
da infância para a maturidade (1 Co 3.1-5).
É isso que Paulo ensina na
Epístola aos Filipenses. Fomos alcançados ou conquistados por Cristo em alguma
ocasião recente ou remota. Foi o solene início de tudo. Estamos caminhando, mas
precisamos caminhar mais. Graças a Deus, alcançamos vários estágios, mas há
outros estágios para alcançar. Alcançamos a salvação, mas falta alcançar o
padrão de conduta estabelecido pelo próprio Senhor, isto é, a perfeição, e
também o prêmio final. Não na reta final, mas na chegada, ele “transformará os
nossos corpos humilhados, tornando-os semelhantes ao seu corpo glorioso” (Fp
3.21). Animemo-nos, pois, e ponhamo-nos outra vez a caminho.
No caso de Paulo, ele foi
alcançado por Cristo quando estava a caminho de Damasco. Começou a crescer,
amadurecer, fortalecer-se, adquirir ricas experiências e acumular muitas
convicções inabaláveis. Mas, por volta do ano 61, quando estava preso, talvez
em Roma, escreveu aos filipenses que ainda não tinha parado de correr, ainda
estava a caminho do alvo. Além dessa confissão honesta e modesta, o apóstolo
revela sua estratégia pessoal para continuar a bem-aventurada corrida: “Uma
coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as
que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado
celestial de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3.13-14).
Os três verbos da estratégia
paulina são formidáveis: esquecer,
avançar e prosseguir. Expressam ação inteligente e bem-sucedida.
É preciso esquecer o caminho já
percorrido, prescindir do passado para atirar-se ao presente, deixar atrás o
passado. Tanto o passado coberto de insucesso como o passado coberto de
sucesso. É preciso deixar para trás o passado pecaminoso porque ele é assunto
já liquidado e resolvido pela confissão e pelo perdão. É preciso deixar para
trás o passado vitorioso para moderar a euforia da vitória e enxergar os
desafios seguintes.
É preciso avançar para o que está
à frente, ansiar com todas as forças e estender as mãos para qualquer coisa que
se depara à frente. Para tanto é estritamente necessário ouvir mais uma vez
aquela palavra do Senhor a Moisés, quando o povo de Israel estava diante do Mar
Vermelho: “Diga aos israelitas que sigam avante” (Êx 14.15).
É preciso prosseguir, correr
diretamente atrás do alvo. A Tradução Ecumênica da Bíblia usa a expressão
“arremeter rumo à meta”, que significa arrojar-se, lançar-se, atacar com ímpeto
ou fúria. Por isso mesmo coloca também na boca de Paulo: “[Eu não alcancei o
que preciso alcançar], mas arremeto para tentar alcançá-lo” (Fp 3.12). Prosseguir em direção ao alvo é a mesma
coisa que “perseguir o alvo”, como se encontra em outra versão.
O alvo, o prêmio, a coroa, são a
plenitude da salvação, a salvação completa, que vai além da libertação da culpa
e do poder do pecado. O alvo é a consumação da salvação, que inclui também a
libertação da presença do pecado, tanto através da ressurreição do corpo como
da criação de novos céus e nova terra.
Não podemos parar no meio do caminho, entre a largada e a chegada. É
preciso terminar a caminhada e agarrar o alvo com as duas mãos!
Extraído de: Revista Ultimato – Seção: Pastorais – Edição 308
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