A Bíblia fala tanto em gritaria
que se poderia escrever uma teologia do grito. Todos gritam: o homem e a
mulher, o crente e o não-crente, os anjos e os demônios, o indivíduo e a
multidão, os atalaias e os profetas. Até a sabedoria grita: “A sabedoria está no
alto dos morros, na beira da estrada e nas encruzilhadas dos caminhos; está na
entrada da cidade, perto dos portões, gritando: ‘Eu estou falando com todos
vocês e faço um pedido a todos os moradores da terra’” (Pv 8.2-3). Até Jesus
grita: “Às três horas da tarde, Jesus gritou bem alto: “Eli, Eli, lamá
sabactani” (Mt 27.46). O último som saído da boca do Senhor foi um grito: “Aí
Jesus deu outro grito e morreu” (Mt 27.50).
A Bíblia menciona até a altura
dos gritos. Depois de rodear a cidade de Jericó por sete dias e depois das seis
voltas do último dia, Josué, os sacerdotes e o povo gritaram com toda a força e
as muralhas da cidade caíram (Js 6.20). Mentindo ao seu marido a respeito de
José, a mulher de Potifar disse-lhe: “Ele entrou no meu quarto e quis ter
relações comigo, mas eu gritei o mais alto que pude” (Gn 39.14). Pouco antes da
invasão da Babilônia, o povo de Israel recebeu a seguinte ordem: “Gritem bem
alto e bem claro” (Js 4.5). Depois de ver “as coisas nojentas que o povo de
Israel estava fazendo”, o próprio profeta Ezequiel registra: “Aí ouvi o Senhor
dizer em voz bem alta...” (Ez 9.1).
O comandante e Paulo devem ter ficado impressionados
com o que viram e ouviram durante a reunião extraordinária do Sinédrio. Numa
única sala do templo, algumas dezenas de saduceus e fariseus gritavam cada vez
mais alto uns com os outros por causa da ressurreição dos mortos, graças à
provocação de Paulo.
Retirado de Refeições Diárias — No partir do pão e na oração (Editora Ultimato 2011)
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