Quando criança sonha-se com muita
coisa. Paro nesta frase. Lembro-me, ao escrever esse “quando” inicial, de Paulo
e de sua epístola aos coríntios: “Quando eu era menino, falava como menino,
sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti
das coisas próprias de menino.” Esses versos acompanham-me há alguns dias.
Venho caminhando, no pensamento e
também fisicamente falando, refletindo no apóstolo e naquilo que em seu falar,
sentir e pensar precisava ser esquecido. De fato, parece-me que há um esquecer
– ou talvez seja melhor dizer um “desistir”, para sermos mais fiéis ao
discípulo de Gamaliel – necessário ao amadurecimento. Diante de um mundo
exigente – da urgência imposta ao jovem de se aperfeiçoar nos mais diversos
campos do saber e, ao mesmo tempo, da experiência que lhe é cobrada em cada um
deles -, é preciso crescer e deixar um pouco de lado o universo infantil e suas
fantasias.
Mas o que Paulo tem a ver com
tudo isso? – podemos nos perguntar. Pode parecer descontextualizado demais
querer trazer o trecho de sua carta para a experiência de um jovem
contemporâneo. Penso que não. Ainda que as épocas não coincidam, há sentimentos
que continuam sendo universais, há momentos que são (ou ao menos precisariam
ser) marcantes. O menino e o homem, por exemplo, separam-se na fala do
apóstolo. Duas fases distintas. Consigo visualizar os dois pontos, mas onde
está a passagem entre eles? Que as fantasias e o universo infantil fiquem na
gaveta, certo. Certo?
Alfineta-me o pensamento, sem que
eu mesma queira, a fala de Cristo: “Em verdade vos digo: Quem não receber o
reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele.” Numa avalanche
de questões, então, continuo. Como será isto: o reino é para as crianças e o
mundo para os adultos? Sim, todos sabemos: o coração é que precisa ser de uma
criança! Entrelaçam-se, no entanto, e convenhamos, vivência e sentimento. Para
o jovem, a passagem entre os tais dois pontos ainda está sendo feita. Almeja-se
a todo tempo o falado equilíbrio entre o que se sonhou e o que se deve ser. Eis
a grande tarefa: não deixar a criança brigar demais com o adulto e o adulto não
chorar tanto por não ser mais criança.
Quanto aos sonhos, o melhor é
submeter-se sempre à soberana vontade do Rei, que os tem mais altos que os
nossos, guardados consigo. Por vezes eles se encontram com os nossos deveres e
tudo é só uma questão de tempo. Às vezes, no meio do caminho, há uma pedra. Em
outras, uma pérola. Esperar deste texto uma resposta? Ele está à procura, como
bem se anunciou. É ainda jovem… O bom mesmo é andar com Jesus, conhecedor de
todas as fases e tempos e, ao mesmo tempo, Deus te toda a eternidade.
Mariana Furst tem 29 anos é
mestre em teoria literária, professora de francês e estuda no Centro Evangélico
de Missões.
Extraído de: Ultimato Jovem –
Seção: Altas Devocionais.
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