Se temos pedido orientação do
Espírito Santo, segue-se que estaremos dispostos a usar todos os meios e ajudas
para entendermos as Escrituras. Quando Filipe perguntou ao eunuco etíope se
este entendia a profecia de Isaías, o eunuco respondeu: "Como poderei
entender, se alguém não me explicar?" Em seguida, Filipe subiu à carruagem
e abriu-lhe a Palavra do Senhor.
Alguns, sob o pretexto de estar
sendo ensinados pelo Espírito Santo, se recusam a ser instruídos por livros ou
por homens. Essa atitude não honra ao Espírito de Deus; pelo contrário,
desrespeita-O, porque se Ele dá a alguns dos seus servos mais luz do que dá a
outros — e é claro que Ele dá — esses estão obrigados a transmitir essa luz aos
outros, e usá-la para o bem da igreja. Se, porém, o restante da igreja se
recusa a receber essa luz, com que propósito o Espírito de Deus a deu? Nesse
caso, haveria a sugestão de que há algum erro na dispensação dos dons e das
graças, que é dirigida pelo Espírito Santo. Não pode ser assim. É do
beneplácito do Senhor Jesus Cristo dar mais conhecimento e entendimento da sua
Palavra a alguns dos seus servos do que a outros, e nossa parte é aceitar com
alegria o conhecimento que Ele dá, da maneira que Ele quer dá-lo.
Seria muita iniquidade nossa
dizermos: "Não queremos os tesouros celestiais que existem em vasos de
barro. Se Deus nos der o tesouro celestial com a sua própria mão, nós o
aceitaremos, mas não através de vasos de barro. Pensamos que somos
suficientemente sábios, com mentalidade celestial, e muito espirituais para dar
valor às jóias quando estão colocadas em vasos de barro. Não queremos ouvir a
ninguém, e não queremos ler algo além da Bíblia, nem queremos aceitar alguma
luz a não ser aquela que passa por uma fenda em nosso próprio telhado. Não
queremos ver com a claridade da vela de outro; preferimos permanecer na
escuridão". Irmãos, não caiamos em semelhante insensatez. Se a luz vier da
parte de Deus, mesmo que seja trazida por uma criança, nós a aceitaremos com
alegria. Se algum dos servos dEle, seja Paulo, ou Apolo, ou Cefas, tiver
recebido luz, eis que "todas as coisas são vossas, e vós, de Cristo, e
Cristo, de Deus"; aceite, portanto, a luz que Deus acendeu, e peça graça
suficiente para focalizar essa luz na Palavra, de modo que, ao lê-la, você
possa entendê-la.
Não quero dizer muito mais a
respeito disso, mas gostaria de fazê-lo sentir essas verdades. Você tem a
Bíblia em casa, eu sei; você não gostaria de ficar sem a Bíblia; e pensaria que
é um pagão, se não a tivesse. Você tem a Bíblia e talvez ela seja muito bem
encadernada, um exemplar de aparência excelente; as páginas não foram muito
viradas nem gastas, e não correm tal risco, porque apenas saem aos domingos
para tomar o ar, e durante o restante da semana ficam guardadas junto aos
lenços perfumados de alfazema. Você não lê a Palavra, não a perscruta, e como
poderá esperar que receberá a bênção divina? Se não vale a pena escavar para
achar o ouro celestial, não há a probabilidade de descobri-lo. Várias vezes já
lhe falei que escrutinar as Escrituras não é o caminho da salvação. O Senhor
tem dito: "Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo". Mesmo assim, a
leitura da Palavra frequentemente leva, assim como o ouvir da Palavra, à fé, e
a fé traz a salvação; porque a fé vem pelo ouvir, e a leitura é um tipo de
ouvir. Enquanto você procura saber o que é o evangelho, pode ser do agrado de
Deus abençoar a sua alma.
Mas que quantidade inferior de
leitura alguns de vocês dedicam às suas Bíblias! Não quero dizer nada que seja
demasiadamente severo por não ser rigorosamente verdadeiro — que falem suas
próprias consciências — mas não deixo de tomar a liberdade de perguntar: Não é
verdade que muitos de vocês leem a Bíblia de maneira muito apressada — só um
pouquinho, e saem correndo? Alguns de vocês não se esquecem, pouco tempo depois,
de tudo quanto leram, perdendo até mesmo o pouco efeito que parecia ter? Quão
poucos de vocês estão resolutos no sentido de chegar até ao âmago da Palavra,
ao seu suco, à sua vida, à sua essência, e a beber do seu significado! Se você
não fizer assim, digo-lhe, de novo, que a sua leitura é leitura miserável,
leitura morta, leitura sem proveito; não é leitura de modo algum, e até o nome
de leitura seria impróprio. Que o Espírito Santo lhe dê arrependimento quanto a
este assunto.
Extraído de: http://www.charleshaddonspurgeon.com
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