Há vários tipos de silêncio.
Alguns são tidos como sábios. Outros, como necessários para se alcançar a
maturidade emocional e espiritual. Mas há também silêncios que revelam
dificuldades e bloqueios que podem trazer prejuízo – tanto para quem silencia
como para aqueles que vivem ao redor daquele que não se expressa.
O primeiro desses silêncios, e no
caso um silêncio prejudicial, é aquele de quem silencia por medo, embora
precise falar e tenha o que dizer. Medo de errar, de ofender, de não ser
aceito, de sofrer punição. Tal dificuldade em romper o silêncio pode ser
conseqüência de várias situações decorrentes da fase de formação do indivíduo.
Muitos filhos são proibidos de falar pelos pais. Não podem expressar suas
opiniões e idéias; são obrigados a obedecer sem nenhuma explicação e não têm
permissão para questionar. Se insistem, são punidos. E ainda há aqueles que são
criticados pela forma, pelo tom de voz, pelo ritmo ou pelo jeito com que falam,
sendo até ridicularizados por meio de zombarias. Pessoas assim precisam se
conscientizar de que cresceram, tornaram-se adultos e podem agora expressar
seus pensamentos e desejos.
O segundo tem a ver com a
avaliação que cada pessoa faz de si. Muitos se abstêm de falar porque têm
vergonha das suas ideias, do que pensam; acreditam que o que têm a dizer não tem
valor. Gente assim vive num tipo de esconderijo, ainda que no meio de um
ajuntamento. Por causa da autoavaliação distorcida que fazem a respeito de si
mesmas, se omitem, não participam e não revelam o potencial e o valor que
possuem. Agindo assim, não se mostram, e em muitas situações a habilidade que
possuem não é vista. Deixam, portanto, de cooperar para possíveis
transformações no ambiente em que vivem.
Um outro tipo de silêncio é
aquele que surge quando o assunto a ser abordado é tão dolorido e difícil de
ser expressado que a pessoa não consegue falar. A dor emocional é tão grande
que só lhe resta silenciar, sufocada. Tal sofrimento é o resultado de alguma
mágoa, ofensa, experiência ou uma situação não resolvida da sua história. A
melhor forma de vencer este bloqueio é lidar, em primeiro lugar, com as
memórias doloridas de que se tem lembrança. Ou seja, é necessário, antes de
tudo, expressar toda a fala referente àquele assunto para tornar possível um
esvaziamento da dor acumulada. Nesse processo, o indivíduo terá a oportunidade
de fortalecer seus recursos internos e expressar o que tem em mente, sem se
deixar engolir pela mudez emocional.
O quarto tipo de silêncio é
aquele que surge como retaliação ao interlocutor. Trata-se de situação comum
entre cônjuges ou membros de uma mesma família ou grupo de pessoas próximas. A
pessoa sabe que devia falar, mas silencia como punição ao outro. O uso da
vingança pelo silêncio impede que a comunicação se estabeleça na solução de
diferenças, conflitos e ofensas entre as pessoas que convivem entre si. E a
consequência é óbvia – os problemas que prejudicam o relacionamento não são
resolvidos.
Mas há também o silêncio, que
chamo de sábio, que surge por simples escolha. Muitas pessoas sabem o que
falar, acreditam em si mesmas e não têm medo do interlocutor, mas ainda assim
escolhem silenciar – ou porque julgam que o momento não é adequado para se
expressar, ou porque temem que o que for falado será usado como arma contra
elas mesmas. Isso, sem falar naquelas situações em que o falante percebe que
seus ouvintes não estão interessados no que ele tem, pode e sabe falar. Quantos
de nós já não passaram pela situação incômoda de perceber que ninguém à nossa
volta dá a mínima atenção ao que dizemos e que o melhor seria nem ter começado
o assunto?
O último tipo de silêncio é
aquele de quem não se preocupa se tem ou não o que falar; apenas silencia para
escutar o outro, ao mesmo tempo em que escuta também a si mesmo. Rubem Alves,
em seu livro O amor que acende a lua, escreve exatamente sobre isso. Diz o
escritor que há muitos cursos sobre oratória, mas nenhum de nós se preocupa em
aprender a arte de escutar. O apóstolo Tiago já nos alertava, em sua epístola,
para sermos “prontos para ouvir e tardios para falar”. E os escritores do Antigo
Testamento, em várias ocasiões, usam o termo hebraico shemah em relação ao
convite que Deus faz ao povo de Israel para escutá-lo. Ora, não se pode escutar
nada de não houver silêncio.
Que possamos nos expressar livre
e corajosamente quando se fizer necessário em toda e qualquer situação. Mas que
possamos, também, escolher o silêncio para ouvir da melhor maneira possível –
e, principalmente, que saibamos silenciar quando falar não for conveniente.
Escrito por: Esther Carrenho.
Extraído de: www.cristianismohoje.com.br
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